domingo, 31 de julho de 2011

Proseando sobre... Namorados para Sempre



Um relacionamento visto por nós espectadores como autêntico, tudo porque essa obra escrita e dirigida por Derek Cianfrance não é pra fazer chorar, não é para emocionar, é para ser cruel, intimista e real. Não que todos os relacionamentos corram o risco de chegar ao ponto o qual este posto em cena chegou. Longe disso, mas, a sentença “felizes para sempre”, na maioria das vezes, funciona unicamente na fantasia. Tolerar um ao outro é uma tarefa árdua, a conquista desse feito é difícil. Nela, talvez, resida o amor e a aceitação. Tornar-se “Namorados para Sempre” não é só uma escolha. O filme demonstra isso incrivelmente bem.

Favorecido por uma performance dupla irrepreensível, mais do que isso, tocante, de Ryan Gosling e Michelle Williams que vivem Dean e Cindy, este trabalho atravessa anos de uma relação calorosa, ressentida atualmente pelo sofrimento e sentimento de abandono. O afago tornou-se receio, e a relação disposta amarga. São dois pólos: Cindy, distante, é ciente da metamorfose provocada pelos anos de convivência; Dean, perplexo, interioriza sua frustração e racionaliza o momento, preferindo acreditar que se trata apenas de uma fase difícil, transitória. Cenas do passado refazem o encontro entre os dois, o desenvolvimento da relação e o casamento. O passado.

As risadas podem até acontecer, ameaçam em alguns pontos, mas passa longe de qualquer perspectiva de comédia romântica. A esperança presente remete a um alívio latente, porém não influi, não resgata o ideal romântico sugerido por seu título nacional. Somos convidados pelo diretor a acompanhar os detalhes de um desgaste emocional, buscando um passado enérgico influindo num sereno presente sem sabor, e se sensorialmente o longa consegue nos atingir de imediato, causando uma sensação próxima de mal estar compartilhado com seus personagens, então a escolha de Cianfrance em seguir seus atores buscando neles qualquer naturalidade que evoque sua ação, transmitindo o sentimentalismo injetável através de olhares, toques, gestos de forma dinâmica, terna e impressiva, é definitivamente certeira.

“Namorados para Sempre” é um dos romances mais intensos dos últimos anos, trazendo não só a singularidade de um casal a beira do fim, mas a perspectiva outrora projetada do que se poderia fazer para ser feliz um com o outro. Vale tudo nessa tentativa. A lembrança reverte a situação, mas momentaneamente, como um sono diante ao desastre iminente. Se acentua cena após cena o que se fez com o tempo e o quanto este percorreu até ali naquela encruzilhada. O rumo parece óbvio, mas há tanto a se considerar que parece impossível se virar e deixar-se ir. Restam recordações e distintos caminhos. Nesse sentido, que futuro pode ser certo? Que amanhã pode ser garantido? Que chama que não se apaga? Que amor que perpetua? Que ideal de mundo que não se desconstrói? Perguntas sem respostas. E se Renato Russo já dizia que “o para sempre, sempre acaba”, resta, então, um certo pessimismo no olhar do espectador ao constatar o futuro do casal. É bom saber que temos o futuro em mãos e podemos fazer o que quisermos com ele.

Um comentário:

  1. Ótimo post!
    Quanta reflexão sobre o filme!

    Realmente um filme realista, apesar de exagerado, mas muito bom!!!

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