segunda-feira, 27 de junho de 2011

Proseando sobre... Carros 2


A emoção sempre envolveu os projetos da Pixar. Todos eram suficientemente divertidos e levavam distintos públicos ao cinema. Ano passado saiu sua obra máxima, “Toy Story 3”, que encantou o mundo. Neste ano, outra continuação de mais um de seus sucessos, “Carros 2” veio para trilhar esse caminho fabuloso das produções do estúdio, no entanto, tomaram a via errada e encontraram pela frente frustrações e um verdadeiro porre ao final do projeto com inversões de valores e moral muito mal explorada – o que aconteceu? Será que é preciso apelar para critérios comerciais? Será que a Pixar se renderia a isso? É virar as costas para o cinema. Penso, otimista, que foi apenas uma derrapagem.

Relâmpago McQueen está de volta após anos de conquistas nas pistas, agora ele é visto como referência nas corridas em todo o mundo. Mas, neste novo projeto, isso não irá importar tanto. Ele nos é apresentado a partir de uma cena contidamente melancólica lembrando de Doc Hudson que morrera e logo após foi devidamente homenageado. Nesse ato veremos também todos os personagens do outro filme – o trabalho de imediato nos enche os olhos ao admirarmos a produção requintada e caprichosa dessa animação que viria a ficar ainda mais bela mais tarde quando as cidades de Tóquio, Paris, Roma e Londres fossem exaltadas. McQueen é desafiado por um carro italiano a enfrenta-lo no Grand Prix Mundial. Ele aceita, mas... isso acaba deixado de lado.

Estamos diante uma tentativa de novidade, uma vez que a maior parte da trama reside em Mate, o carro guincho carismático que estava no lugar errado e na hora errada. Foi confundido com um espião. A maior parte das piadas acontece com ele. Este personagem que no primeiro filme era secundário, assume neste o protagonismo, o que foi um problemão: seu trejeito caipira é engraçado em poucas doses, o excesso aborreceu. E nos estranha constatar que o secundário nessa história, agora Relâmpago McQueen, é dono dos mais memoráveis momentos do longa nas cenas de corrida. “Carros 2” parece ter perdido seu foco e se afundado num terreno comercial, coisa impensável quando se pensa em Pixar. Por falar em carros, resta imaginarmos essa continuação como um acidente do estúdio.

Há personagens novos surgindo responsáveis por transformar o longa num competente filme de espionagem com direito a sacadas a Conan Doyle e cenas de ação ininterruptas no estilo Bond. Para isso, dois novos personagens surgem: Finn McMíssel, impecável combatente e Holley Caixa de Brita, que mais tarde roubará o coração (se é que ele tem um) de Mate. O trio tem de investigar a origem de alguns acidentes, desconfiando sobre o novo combustível degradável alternativo aos feitos a base de Petróleo, o que gera bastante tensão nos competidores e nos envolvidos com a corrida, colocando a vida dos três em risco. Aí está uma primeira discussão jogada no ar para depois ser descartada: alternativas com menores potenciais de poluição.

Raramente divertido, a experiência em ver “Carros 2” é puramente ligada a ação tanto nas pistas quanto fora dela. Nesse meio, surge outra discussão, carros considerados menores, ou bullynados, que mais tarde – acreditem – justificam seu mau caratismo, aversão ao mundo e aos outros por conta do que sofreram no passado. Proposta perigosa, outra moral mal desenvolvida pelo roteiro. Mas para compensar tudo isso, o cenário fascinante é um expoente dessa produção que personifica seus personagens: as gueixas e o papa móvel são interessantíssimos. O diretor e roteirista John Lasseter –seu nome aparece numa placa publicitária no filme como gag visual – parece desatento e pouco afim de entregar uma obra digna da Pixar, fazendo tudo na correria ou no piloto automático, sugerindo argumentos terrivelmente explorados e cuspindo piadas previsíveis e pouco inspiradas. Serve como divertimento, porém, ao se tratar de uma obra provinda dos estúdios Pixar é muito pouco, é quase nada.


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