Um dos planos-sequência mais
memoráveis realizados nos últimos anos está em O Segredo dos Seus Olhos (Secreto de sus ojos, El, 2009), filme do
argentino Juan José Campanella. Nele acompanhamos a câmera saltar do alto de um
estádio de futebol lotado e adentrar no meio da torcida, encontrando um
personagem importante. Uma grande realização, sem dúvidas. E o assunto futebol,
tratado e mencionado em alguns momentos naquele intenso drama investigativo é o que parece ter
fisgado o diretor nessa animação, Time
Show de Bola (Metegol, 2013). E os planos sem cortes também persistem. Agradável e divertido, o longa inova com
uma proposta distinta, embora se aproxime inevitavelmente de animações similares
como o inesquecível Toy Story (Toy
Story, 1995). Em ano de Copa do Mundo, não poderia ser melhor o momento para se
lançar tal animação focada no esporte mais popular do mundo.
Na história escrita e roteirizada
por Campanella juntamente a outros colaboradores, acessamos uma pequena
cidade interiorana onde pouca coisa acontece. A diversão para algumas crianças é
um bar que possui uma velha mesa de pebolim. Nela o jovem Amadeo passa suas
tardes. Ele é invencível! Em uma oportunidade, ganha de um dos garotos mais
metidos do bairro, o que afetará diretamente o futuro: o menino derrotado não
aceita derrotas e se torna um individualista e promissor craque de futebol aos olhos de um empresário oportunista. Um vencedor
sem escrúpulos que se amargura diariamente por ter perdido por um considerado
ninguém numa fatídica noite no passado. O tempo os alcança opondo-os novamente,
porém com circunstâncias completamente novas, quase que difíceis de acreditar,
ainda que venha de uma animação, de uma genuína fantasia.
O filme tem o futebol como
paixão, mas diz mais do que o furor que o cerca. Fala de ambições e sonhos
frustrados, mas motivados pela crença da oportunidade e suas reais – embora flerte
muito com o imaginário – possibilidades de conquista. É tradicional na
cinematografia de Campanella tratar o passado, exprimir personagens que procuram
resolver pendências, especialmente de ordem emocional. A cinematografia recente
comprova: em O Filho da Noiva (Hijo de la Novia, El, 2001) há um laço emocional
por um desejo não realizado entre dois idosos; já em Clube da Lua (Luna de
Avellaneda, 2004) a memória de antigos donos de um clube corre o risco de ser
apagada e é defendida por alguns parentes; e no esplêndido O Segredo dos Seus
Olhos, amarguras são refletidas através de um caso policial arquivado sem
sucesso.
Muito se discute na história,
pouca coisa é substancial, ainda que o alvo sejam as crianças. A graça da trama
reside nos pequenos bonecos da mesa de pebolim que ganham vida. Interagem com o
protagonista e possuem uma história toda particular. A graça da coisa toda
demora para funcionar, fica interessante com a presença dos mini jogadores e
tem seu melhor momento num jogo de futebol próximo ao ato final, tempo em que definitivamente
rimos muito com gags – a placa publicitária “lanche da Elsa” é impagável – e
piadas. De fácil identificação e sem grandes pretensões, Um Time Show de Bola conseguirá agradar o público nacional pelo seu
tema. Como que o argumento futebol não funcionaria no Brasil? Oriunda da Argentina, a
obra é um sucesso absoluto nas bilheterias hermanas. Tecnicamente é rebuscada,
o desenho dos pequenos personagens com suas manchas e arranhões dão um charme
todo especial a eles. Quando estão em cena, quase que nos esquecemos de
Amadeo e seu dramalhão particular. Talvez seja melhor mesmo deixá-lo em segundo
plano.
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