Deixou-se de se levar a sério há muito tempo. Mas
alguma vez se levou? A franquia “Velozes e Furiosos” segue a toda velocidade,
chegando ao seu sexto filme. E vem mais, posso adiantar. Mais do mesmo cada vez
mais descomedido. Nesta parte, o grupo liderado por Dominic Toretto é recrutado
pelo implacável policial Luke Hobbs. A
missão é parar o terrorista Owen Shaw que vem ameaçando o mundo. Em troca do
serviço, o perdão pelos crimes passados, o que devolveria a todo o grupo a
liberdade que tanto almejam. Há ainda um outro motivador especial para Toretto,
a possibilidade de encontrar sua ex, Letty, aquela que acreditava estar morta.
Após o espectador sentar na poltrona, terá mais de duas horas de muita
velocidade, fúria, absurdos mirabolantes e demasiada diversão. Se está longe de
ser um grande filme, ao menos cumpre o que promete: divertir. Isso basta para
alguns.
Trazendo quase todo o elenco dos filmes
anteriores, “Velozes e Furiosos 6”
é um ode a recreação descompromissada, especialmente para aqueles que apreciam
carros. Há ainda o acréscimo de violência, com embates bem mais ostensivos
comparados aos anteriores. Destaca-se o confronto lascivo entre as personagens
de Michelle Rodriguez e Gina Carano. A franquia vem perdendo a força, mas não
os fãs. As novidades ficam por conta das locações e dos planos espalhafatosos
que envolvem constantes perseguições e improvisações perigosas. O grupo de
Toretto as faz muito bem. O exagero marca presença duramente e o roteiro pouco
oferece de substancial. A fita é um autêntico enérgico filme de ação dos mais
impressionantes. É só isso. Para muitos isso é muita coisa.
O diretor Justin Lin, que não larga a cadeira de
direção desde Velozes e Furiosos:
Desafio em Tóquio (The Fast and the Furious: Tokyo Drift, 2006), não está
preocupado em elaborar uma grande história para seu filme. Entende bem seu
público e o que este busca. Ele precisa apenas de uma desculpa para criar uma
continuação, um vilão que tenha gosto por carros, locações com estradas
atraentes e grana para trabalhar os efeitos especiais. Está faltando descobrir
a Austrália e encontrar, quem sabe, alguns personagens de Mad Max - Além da
Cúpula do Trovão (Mad Max Beyond Thunderdome, 1985) e enlouquecer com
perseguições frenéticas ao som retumbante proposto por uma trilha sonora pesada
e barulhenta, tal como os motores possantes dos carrões exibidos em cena.
Funcional em praticamente todas as cenas de ação,
o trabalho final não é nada preguiçoso. Desenvolve-se agilmente e permite que a
gente compreenda o que está acontecendo. Justin Lin é bastante competente ao
dirigir tais cenas, fazendo-as enternecidas por tensões sensoriais obrigando o
público a não piscar diante o que testemunham. Ao contrário de um Michael Bay
da vida, não depende unicamente de pirotecnia. As conclusões destas, por vezes,
estragam o todo. É assim em dois momentos cruciais: a perseguição na ponte
junto a um tanque e a do aeroporto cuja pista é interminável. Ambas são cenas
longas, vigorosas e precisas, porém culminam em atos mágicos através de
disparidades heróicas capazes de serem realizadas unicamente por quem tem
poderes sobre-humanos, o que não é o caso dos personagens do filme. Sem
propósito a não ser impressionar quem assiste, acaba soando ridículo.
Vin Diesel com seu talento dramático oferece um
contido Dominic Toretto quando este descobre a verdade sobre o passado de
Letty. Paul Walker está inutilizado – a cena em que ele viaja para os Estados
Unidos atrás de uma informação importante é totalmente descartada minutos
depois, demonstrando a importância de seu personagem encaixado no roteiro.
Dwayne Johnson que ganhou papel em Velozes e Furiosos 5 - Operação Rio
(Fast Five, 2011) retorna explodindo em testosterona, na cola dos perseguidos e
do vilão Owen Shaw, vivido por Luke Evans. Diante tanta masculinidade, músicas,
“pegas” e brutalidade, outra característica da franquia marca presença: o
humor. Este aparece episódico, como alívio as tensões erradicadas pela
intensidade da ação que não cessa.
O fato é que “Velozes e Furiosos” tem suas
próprias regras físicas e questionar o que acontece é bobagem, já que trata-se
de uma realidade alternativa; ou de mutantes, talvez. Esperar um filme que leve
a sério o que visa tratar é uma expectativa tola, jogada pelo ralo desde o
primeiro filme. Já faz um bom tempo que este fora lançado. Sem previsão de fim,
é bem provável que a gente assista coisas ainda mais absurdas e extravagantes,
reforçadas pela tecnologia crescente em máquinas velozes que funcionam como armas.
Uma cena pós créditos – ótima, é preciso reconhecer – cria a expectativa por um
próximo que deverá ser ainda mais desvairado e alucinado com a presença de um
novo e, aparentemente, mais bravio vilão. Alguém que manja de carros cheio de
carga explosiva. Será um provável estouro.
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