Está certo que O Último Exorcismo (The Last Exorcism, 2010) não desfrutava de uma
das tramas mais originais. Sua diferenciação consistia na narrativa documental,
febre que vem invadindo filmes do gênero terror nos últimos anos. O sucesso foi
instantâneo, mais pela oportunidade do susto facultado do que pela trama
desenvolvida que era um captador de todos os clichês do gênero. Tudo bem,
funcionou. O público gostou. O prestígio foi tanto que pensaram numa
continuação. Tem tanta gente fazendo por aí, por quê não fazer também? Assim,
agora, estreou O Último Exorcismo -
Parte 2 (Last Exorcism II, The, 2013), sequência dos eventos anteriores
contando sobre o futuro da menina Nell. A coisa toda mudou, quer dizer,
descambou-se num usual longa de horror sem as aspirações do primeiro. Ed
Gass-Donnelly, o diretor que substitui Daniel Stamm, causou um estrago.
Alguém tinha alguma expectativa de que essa
continuação seria significativa? Seu precursor nem fora dos mais relevantes,
contudo em boas mãos esta sequência teria algo a mostrar. É legal de se ver,
juntar uma galera e ir ao cinema atrás de entretenimento da categoria. A coisa
toda é gratuita, convencional as pretensões de atemorizar, não vai mais longe
que isso. Se o intuito do espectador é gozar de possíveis sustos, então a obra
terá algum proveito, pois consegue em minguados momentos causar sobressaltos.
Sobram imagens horrendas de corpos retorcidos, olhos sombreados e feição de
pavor, algo que a protagonista – a desconhecida Ashley Bell – consegue fazer muito
bem, tal como no anterior. A moça é boa atriz, exprime pânico e insegurança em
expressões imaculadas, mudando sua composição ao longo do filme até o ato
derradeiro.
O filme: Nell é encontrada algum tempo depois dos
acontecimentos vistos na primeira parte. A tragédia é sobrelevada após uma
curta intervenção psiquiátrica e a garota passa a ser integrada numa casa onde
meninas com algum tipo de problema psicológico fazem tratamento de
ressocialização. Ali ela adapta-se a vida urbana, distante da dinâmica rural de
outrora. Este é um elemento com algum potencial que em certo instante ganha
alguma entonação, sem muita força para se manter, já que a entidade que quase a
sucumbiu – o apaixonado demônio Abalam – segue em seu encalço. Do campo para
Nova Orleans, um predador saindo das florestas em direção a cidade. O tinhoso
romântico ainda precisa lidar com um rapaz a qual Nell se apaixona. Aí a
limitada originalidade expira. O
Exorcista (Exorcist, The, 1973) segue fazendo escola em produções medíocres.
O demônio não poupa formas de manifestações, e
este parece antenado a tecnologia. Ed Gass-Donnelly segue uma crescente onda de
clichês para acertar o que o público mais espera: o temor voluntário. Máscaras
macabras, planos subjetivos, sombras distorcidas, sugestões de investidas
permeadas pelo silêncio, rádio, televisão, trilha sonora pontual. Tudo em
benefício do terror. A história suplanta atrás de novas vítimas. O embate
ciência versus religião, tão marcado na primeira empreitada, não tem aplicação
nesta sequência. Ao menos não com tanta ênfase enquanto argumento narrativo. Em
um instante, Nell encara as possessões como fantasias, tentando reconhecer sua
sanidade conforme orientação de seu médico cuidador. Poderíamos nos importar
com o que se passa com a garota, no entanto o roteiro dá pouca importância à
empatia e não nos envolvemos o suficiente com a desgraça acometida em sua penosa
vida.
Revitalizado para o modelo extrínseco de
filmagem, esta segunda parte é uma obra que visa aproveitar unicamente o sucesso
passado, já que não tem lá muitas razões de existir. É bem verdade que uma
continuação calharia bem, pois o primeiro deixa arestas aproveitáveis. O que
fez-se, no entanto, resultou num longa ordinário cujo final tange hipóteses e
divide opiniões. As idéias e motivações dessa franquia esgotaram? Provavelmente
não. Ainda há muita pirofagia e sangue para mostrar, já que o último exorcismo
não foi bem assim o último. Diversão contingente e inofensiva. Ao menos Abalam
tem um bom gosto para
música.
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