Entre cinebiografia e homenagem,
“Somos tão jovens” não se dá bem em nenhum. É o filme que fala dos primeiros
anos de sucesso do inesquecível Renato Russo, seu início no Aborto Elétrico até
a glória em Legião Urbana. Aos que viveram os anos 80 e 90, e gostavam das
canções do cantor, ouvi-las durante o filme quase faz passar despercebida a
fraqueza narrativa do longa por conta da nostalgia. É ótimo perceber as
melodias em alguns momentos, notar diálogos que remetem diretamente as mais
famosas letras e vivenciar de alguma maneira o que foi aquela geração de
rockeiros em Brasília. Assim, diante essa estrutura que fomenta a progressão de
um dos mais notáveis nomes da música brasileira, reconheceremos a partir de
trejeitos e estilos a transformação de Thiago Mendonça em Renato Russo. O resultado
se equivale a uma homenagem televisiva, um especial filmado em algum momento
para homenagear o cantor. Enquanto cinema, ah, deve muito.
A começar, a direção de Antônio
Carlos da Fontoura é estranha, desconjuntada, talvez por precaução. Em suas
mãos está uma bomba. Como fazer um filme a altura de um mito? Fãs estão de vigília,
muitos até se recusaram assistir a produção temendo o desfecho. Qualquer
escorregão custaria caro. Ele investiu na música e encontrou algum êxito. Ao
menos não fez feio, o que já é de grande valor. A preocupação do diretor foi,
certamente, salientar os primeiros anos da figura Renato Russo sem buscar ir
mais a fundo em sua história e psicologia. Isso frustra, já que desejamos
conhecer melhor o biografado.. Temendo funcionar como um vídeo clipe, o diretor
escolheu planos mais intimistas e quando exibia os shows, buscava a interação
do público com o jovem em formação. Não é, definitivamente, um filme sobre a
vida de Renato Russo.
Uma das melhores investidas do
longa é, sem dúvidas, a relação entre Renato e sua amiga Ana Cláudia (Laila
Zaid). A garota, como mostra o filme, foi uma figura muito importante na vida
do cantor. Mas ela de fato existiu? Não, é um personagem ficcional. Mas a trama
gira em torno desse casal e se expande a um núcleo de relacionamentos, às vezes
conturbados, outras vezes imprecisos, porém costumeiramente capazes de significar
algo a ponto de fazer o protagonista pensar sobre suas experiências com o outro.
Ele chega a gravar conversas, como assistimos em algumas cenas para depois
ouvi-las e finalmente absorvê-las.
Movido pelo frenesi das
aspirações artísticas, a figura retratada de Renato tinha ciência do quanto
poderia polemizar significando mudanças e ecoar reivindicações que atenderiam o
povo a partir de sua filosofia e finalmente lutar contra o sistema instalado
numa cidade em que pouca coisa acontecia. A revolução como bandeira motivou a
criação de bandas que protestavam duramente contra o governo. Que país é este?
Se perguntava Renato, entonando coros quando outros decidiram gravar suas
composições.
Thiago Mendonça faz um grande
trabalho e garante a simpatia do público com sua entrega. Os outros atores levam
bem, embora alguns surjam como caricaturas. O filme, no entanto, é vazio, sem
muito a apresentar senão canções e um pouco do que fora o biografado. O roteiro
brando e a direção econômica e precavida amarraram o longa tornado-o enxuto e
breve, as vezes leviano. É bom de se assistir, e essa virtude pode ser vista
como negativa, já que o sucesso é mais pelo que está representado do que pelo trabalho
em suma. “Rock Brasília - Era de Ouro” diz muito mais, se me permitem
comparações. Todavia, ainda que pequeno diante o potencial de seu material,
vale a conferida como possibilidade de acesso ao passado e perceber jovens e
seus sonhos radiantes, traduzidos em musicas imortais.
Poderia ter sido bem mais, de fato, embora o que o filme retratou tenha sido feito com competência. Mas ainda havia história pra contar, tanto que fica a impressão de que o filme terminou antes do que deveria.
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