segunda-feira, 17 de junho de 2013

Proseando sobre... Além da Escuridão - Star Trek



Lançado em 2009, o reboot de Star Trek (Star Trek, 2009) que fora filmado sob olhares desconfiados e temerosos de seus mais ferrenhos fãs surpreendeu por ser um exemplar digno dos bons tempos de “Jornada nas Estrelas”, respeitando as raízes, inovando e discutindo assuntos bastante atuais. Em Além da Escuridão - Star Trek (Into Darkness - Star Trek, 2013), o sucesso de repete e aperfeiçoa. O filme é ainda mais empolgante, mais sério e trabalha com temas bem mais densos do que seu antecessor, como a guerra, o terrorismo, arsenais bélicos, globalização e religião. Entre as grandes produções recentes, esse é, sem  exageros, um dos mais satisfatórios. Além de coeso e competente diante o que propõe, funciona perfeitamente como uma extensão relevante do lançado há 4 anos e digno diante o que significou a franquia em seus tempos louros. Os méritos caem sobre seu diretor J.J. Abrams e o ótimo elenco em sintonia.

Consigo imaginar alguma reunião onde o diretor junto a sua equipe e elenco pedisse respeito e dignidade frente ao que estavam realizando já que, além das exigências naturais para a constituição de um bom filme de ação, especialmente de um gênero não tão popular como o sci-fi, nesse caso tinha um peso maior. Nada mais justo. Ao que parece, todos entenderam e igualmente a família montada dentro da poderosa nave USS Enterprise, formaram uma equipe e tanto por trás das câmeras. Pensando nessa sugestão hipotética, percebo o filme crescer mais aberto e corajoso em inserir coisas novas, trabalhar com o passado e vislumbrar o futuro da série de maneira sofisticada. 

O texto é mais simples comparado ao visto no longa anterior, porém mais fértil. A história traz toda a tripulação diante um inimigo ainda mais perigoso, apresentado definitivamente quando tripulação estava parada no planeta Kronos, local onde residem os famosos Klingons. Lá descobrem algumas infortunadas verdades. Felizmente o filme não se prende num maniqueísmo tradicional, há incitações de apelo global com referências a contemporaneidade, assuntos vivenciados no dia a dia como ameaças terroristas e a política enraizada. Reunindo a ação de primeira a qual o foco não é somente impressionar – já que o que acontece não é gratuito –, com um universo de referências políticas e religiosas, “Além da Escuridão” extasia. O diretor é hábil ao conceber virtuosas cenas de ação e elaborar atos esteticamente fascinantes, como aquele em que Spock e Kirk entram num elevador e, num plano único, vão de um lugar a outro. 

Entre noções temporais e espaciais, dirigidas com impulso indagatório, já que reflete teorias, a ação dribla e se mantém enérgica e praticamente ininterrupta. Algumas breves piadas aparecem como alívio, todas bem pontuais sem excessos. Uma delas tem origem de uma crítica religiosa onde uma civilização considerada atrasada que cultua entidades e crê em milagres assiste arrebatada a salvação de seu planeta. Rapidamente eles desenham a forma do que passam a considerar sagrado, desconhecendo a origem real daquilo que lhes poupou.

Entre tantas ameaças, a da vez é Khan, tradicional vilão da série, vivido brilhantemente por Benedict Cumberbatch. O trabalho vocal de seu personagem é uma atração a parte. Percebemos uma ameaça real, nos importamos com a tripulação e acompanhamos atentos os eventos, sem sabermos dos reais interesses do antagonista, embora compreendamos suas motivações. O elenco principal retorna: Chris Pine, Zachary Quinto, Simon Pegg, Zoe Saldana e Karl Urban permanecem eficientes. Há o acréscimo de mais dois atores, o veterano Peter Weller e a bela Alice Eve que protagoniza uma cena um tanto desnecessária – todavia os homens não poderão reclamar.

J.J. Abrams se preocupa em tornar os acontecimentos de seu filme minimamente verossímeis, embora não tenhamos acesso – conhecimento – sobre outras possíveis civilizações tal como as demonstradas na narrativa, no entanto ele insere no longa embates de relações pontuando particularidades de seus personagens. Cada um convive com angústias e sofrimentos singulares, desde temperamentos que por vezes compromete o sucesso coletivo até relacionamentos românticos frustrados pela insensibilidade. Com isso nos aproximamos de suas personas. Alguns podem questionar que tudo isso soe demasiado banal, porém esta me parece ser uma de suas maiores virtudes: humanizar os heróis. Algumas coisas não mudam completamente, como os sentimentos, estejam os homens onde estiverem.


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