Após tanto tempo
de espera, de expectativa quase agonizante de alguns fãs, finalmente chega aos
cinemas “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada” nos levando, outra vez, a Terra
Média. Isso, logicamente, nos transporta imediatamente ao universo esplêndido
de “O Senhor dos Anéis” tão bem dirigido por Peter Jackson há cerca 10 invernos.
O diretor retorna nessa nova empreitada. Bateu saudade, é oportunidade de
matá-la. Não é só dessa terra que sentimos falta ao longo desses anos, mas
também dos personagens que carinhosamente aprendemos a gostar. A surpresa é
grande ao final, sobretudo para quem leu o livro: muito desses personagens
retornam, posso adiantar. E esses não estavam na história original contada por
Tolkien. Certamente há quem não vai gostar, especialmente os mais saudosistas. Diante
este início de trilogia, – um esplendor visual inquestionável e narrativamente
empolgante –, creio que o maior problema do filme, no sentido da crença pessoal
de que poderia ser maior, é seu diretor.
Constatamos logo
na abertura que se trata de uma extensão de “O Senhor dos Anéis”. Há,
obviamente, relação com a trilogia de Jackson, fundamentada pela inserção de
Frodo (Elijah Wood) juntamente ao Bilbo envelhecido (Ian Holm), com o segundo contando sobre suas aventuras de outrora, igualmente
ao visto anteriormente. A fórmula se repete provocando uma sensação de
nostalgia. É bom para começar. É a história contada anteriormente não dita, a
qual não somente Frodo tomará conhecimento, como todo o mundo. Isso é gigante,
dada a magnitude criativa de seu autor, J.R.R. Tolkien. Portanto,
imediatamente após presenciarmos situações que foram tão bem transpostas do
livro para o roteiro, pensamos: 3 filmes? Onde isso vai parar? Algumas coisas
são demasiadas delongadas e trabalhadas com empenho cirúrgico em proporções
técnicas, o que pode acarretar esgotamento em espectadores pouco acostumados a
filmes de longas durações, além de ser essencialmente previsível: temos ciência
que muitos personagens irão sobreviver, afinal, estão em “O Senhor dos Anéis”.
Tal fato prejudica a expectativa final.
Bilbo Baggins (Martin
Freeman, irrepreensível) tem seu habitual sossego interrompido
numa manhã por um velho barbudo, Gandalf (Ian McKellen),
que lhe oferece uma aventura. Os diálogos e até as piadas do livro são seguidas
a risca pelo roteiro, proporcionando alguma satisfação ao público leitor capaz
de abrir um sorriso constatando que aquela velha e bela história está a sua frente,
encantadoramente representada. Bilbo é informado que alguns anões lhe visitarão
e em breve sairão para reaver um tesouro anteriormente roubado pelo poderoso
dragão Smaug. Eles irão precisar atravessar terras para chegar até a montanha
solitária. Esse percurso guarda riscos imensuráveis, mortais. Sair para uma
expedição dessa dimensão não é feitio para um hobbit que preza a tranquilidade,
cachimbos e bons banquetes ao longo do dia. Todavia, ao que parece, segundo
explicações do mago, ele está destinado. Mais tarde 13 anões surgem em sua
porta e causam um frisson na pequena toca atordoando o jantar do pequeno. Liderados
por Thorin, escudo de Carvalho (Richard Armitage), o
grupo pouco a pouco conta sobre o passado e discorre a respeito do futuro
incerto que lhes aguarda.
No meio do curso,
ecoando canções inspiradoras que recordam quem são e o que deverão fazer, todos
os pequenos aventureiros toparão com famintos trolls, violentos orcs, ferozes wargs,
elfos – entre eles Elrond (Hugo Weaving) e Galadriel (Cate
Blanchett) –, gigantes de pedra, goblins e o inesquecível Gollum
(Andy Serkis, fascinante com trejeitos e expressões
muito bem caracterizadas). O jogo de adivinhas entre Gollum e Bilbo é, talvez,
o melhor momento do filme. Ainda aparece Azog, um orc branco, como um vilão específico
dessa primeira parte, uma ressalva para ressaltar Thorin, transformando-o num
guerreiro célebre, um líder a altura – com o perdão da palavra – do que os
anões precisam. Thorin torna-se, finalmente, muito mais poderoso do que aquele
apresentado na obra literária. E a rota até a montanha segue levando a jornada
dos 13 anões e do hobbit que encontra no meio do caminho um anel que lhe dá a
possibilidade de ficar invisível. E diante tantas desventuras, a salvação de Deus
ex machina, conceito levantado por muitos após conferirem a obra arrebatada.
Tecnicamente é realmente
impecável, poderoso, límpido. Não tive a oportunidade de assisti-lo em 48
frames, tecnologia inovadora do High Frame Rate trabalhada por Jackson nesta
obra. Já a direção artística é vigorosa, constatar Valfenda em sua exuberância
através da tridimensionalidade é uma experiência lisonjeira. A fotografia
aliada ao 3D funciona bem, embora por vezes decepcionante, talvez pela pouca
familiaridade do diretor com o estilo. Não é nada que comprometa a beleza
exuberante de todo o filme. Desde a vila dos hobbits até as montanhas,
conferimos o cuidado dos realizadores. Desde as transformações físicas dos
personagens principais até os efeitos em batalha – destaque para o embate entre
os gigantes de pedra –, o filme nos brinda com o que há de melhor
alegoricamente. Já a história, ótima, ganha conotações que não lhe dizem
respeito pela ambição de seu realizador querer fazer teimosamente uma ponte com
sua obra prima, “O Senhor dos Anéis”. Essa gana desejosa comprometeu “O
Hobbit”, o que me faz pensar que outro diretor, um pouco menos contaminado pela
elaboração de Tolkien, pudesse fazer algo muito mais significativo,
transformando esse trabalho em algo independente daquela saga do Frodo. Guillermo
del Toro fora cotado para assumir a cadeira da direção e ficarei eternamente
curioso para saber o que este admirável realizador poderia ter feito com esse
retorno a terra média conciliada com sua ilustre criatividade sombria e
fabulista. Ainda assim, é imperdível.
Introdução bastante satisfatória, apesar de alguns problemas do roteiro e de ritmo. Gostei principalmente da fidelidade para com alguns diálogos e ao clima menos sombrio e mais infantil do livro.
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