“Gonzaga – De pai para filho” é
um bom filme enquanto homenagem a um dos mais importantes cantores do sertão
nordestino, Luiz Gonzaga, e ao seu filho, Gonzaguinha. Honesto no que propõe – e
isso obviamente é uma especulação a partir da narrativa assistida a respeito da
vida turbulenta de ambos –, o longa que fora dirigido por Breno Silveira é
didático, bem corrido e explicativo. Conhecemos a figura Luiz Gonzaga por sua
importância no cenário da música popular brasileira, o que não conhecemos é sua
intimidade, a sua pessoa humana distante do estrelato repentino que
consagrou-lhe o título de Rei do Baião. Da mesma maneira acompanhamos
Gonzaguinha em vários períodos, culminando num encontro futuro com o pai,
rendendo um bate papo amargurado sobre o passado e seus desacertos, diálogo que
rendeu essa bonita obra biográfica.
Saindo de Exu, em Pernambuco,
Luiz Gonzaga encontrou a fama após uma série de experiências pessoais, como a
impossibilidade de efetivar um compromisso com uma garota rica e branca de sua
terra; os tempos em que serviu o exército imediatamente após sair de casa
fugido; e a fuga para o Rio de Janeiro, local onde encontrou um violeiro e
juntos começaram a tocar em ruas e bares da capital carioca. Sem sucesso.
Empunhando a sanfona, instrumento que tocava desde os tempos de menino, o
pernambucano decidiu experimentar algo de sua terra para enfim, quem sabe,
fazer sucesso, já que o público se rendia a novidades. Dali decolou. Do Rio de
Janeiro para todo o Brasil. No Rio teve um filho após um caso romântico apaixonado
com a bela dançarina Odaléia (Nanda Costa). Nasceu Gonzaguinha.
O sertanejo que nunca abandonara
seu estilo sofreu com as diferenças em terra distante, amadurecida, contrária a
criação que recebera em terra natal. O diretor faz questão de exaltar essa
diferença através da atribuição dos costumes de seu protagonista, sempre gentil
e humilde, vivido com empenho considerável por Adélio Lima e Chambinho do
Acordeon, que vivem diferentes fases da vida do cantor. Afetado pela idéia de
homenagem que faz o filme por vezes se aproximar de um registro documental, a
narrativa encontra o período mais significativo dos retratados, condizendo com
a conflituosa relação com entre pai e filho, esse último que cresceu sem o
carinho de Gonzagão. Gonzaguinha (Júlio Andrade) vivenciou a pobreza e a
violência das ruas cariocas quando criança, cresceu sozinho, considerando outro
homem como pai, rejeitando Luiz Gonzaga. Não acessamos completamente sua vida,
mas temos informações o bastante para compreendermos seu ressentimento. Mérito
da roteirista Patrícia Andrade.
Alguns recursos narrativos
influem diretamente na qualidade da obra, para melhor, ou para pior. Vai do
gosto do público. São exemplos disso a montagem de algumas cenas, retratos
tirados em determinados momentos com os atores e posteriormente vemos a
fotografia genuína; ou algumas imagens de shows fictícios, mesclados com
registros originais. Temos esses dois extremos que novamente nos faz lembrar
que tudo se trata, sem qualquer dúvida, de uma homenagem a essa dupla. No
entanto, enquanto cinema, alguns se desapontarão pela obra se assemelhar em
vários atos a um documentário passageiro, talvez algo feito para a televisão
num programa de final de tarde de domingo. Ao final é bonito, é sincero. Até
constatamos uma ponte em determinando instante com “O Homem Elefante” de Lynch.
Uma referência ao passado ao observar uma foto, disposta de modo brando e
emotivo por Breno Silveira que acerta o tom quando busca melancolia. Boa fotografia
e trilha contribuem para o sucesso da empreitada. É o filme da vida do viajante
bem resumido na composição de mesmo nome, imortal na cultura musical
brasileira: “Minha vida é andar por esse país, pra ver se um dia descanso
feliz, guardando as recordações das terras por onde passei, andando pelos
sertões e dos amigos que lá deixei...”. Foi o que fez Luiz Gonzaga.
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