Eu poderia repetir o texto do
primeiro filme acrescentando duras críticas, mas seria preguiçoso demais nem
tentar especular o que a continuação do sucesso “De pernas pro ar” busca propor.
Na verdade é bastante simples avaliar o objetivo do filme: faturar alto na
bilheteria por conseguir trazer o mesmo público do original que deseja assistir
novamente as peripécias de Ingrid Guimarães com sua Alice. A personagem tornou-se
uma bem sucedida empresária, inaugurando a centésima loja de uma franquia de
sex shop. As aspirações por grandeza continuam em ascensão, saindo do Brasil
para o mundo: Nova Iorque, no caso. E para a resolução de seus conflitos bem
como os do filme em volta de uma família em decadência moral e afetiva, tem-se um
vídeo de infância o qual uma criança relata o que quer para o futuro. Essa
criança é Alice, megalomaníaca.
Ingrid Guimarães é o que há de
melhor no filme de Roberto Santucci que volta assumir a cadeira de diretor. Parece
ser inimaginável outra atriz no papel principal dessa franquia comercial. É bem
verdade que nenhuma teve a oportunidade de realiza-lo, certamente muitas fariam
com gosto e louvor. No entanto nos acostumamos a ver Guimarães em cena, e
embora às piadas sejam previsíveis, esquemáticas e esquecíveis, são melhoradas
quando proferidas por essa atriz de talento para comédias. E por se tratar de
um filme cuja temática seja inevitavelmente o sexo, me parece ser uma produção
bastante econômica, visando o público,
lidando com uma censura menor. É ingênuo demais, sem aprofundamentos, apenas
soluções. Supostas soluções.
Essa é uma história de situações
inusitadas, impossíveis de se levar a sério. Naturalmente, esquece-se da
realidade a partir do momento em que a sala escurece e a projeção inicia. O que
vemos a partir de então são pequenos bons momentos inseridos num marasmo
cômico. O arco dramático é dos mais enfadonhos, com personagens existindo
unicamente para render uma piada no futuro, ou fomentar uma lógica narrativa das
mais triviais. Caso de um beijo que se torna um possível adultério. E há ainda
potenciais de recordação de outras obras do cinema, como a cena que remete
diretamente a “Curtindo a vida adoidado” durante uma esquiva num táxi. Não fica
claro se é uma referência em mesura ao clássico oitentista de John Hughes ou uma
mera cópia descarada, visando recreação arbitrária. Acontecimentos usuais do
cinema pastelão abarrotam quase toda a narrativa, coisas que já conferimos em
várias vezes no cinema, como a cena do restaurante em que Alice precisa estar
em duas mesas ao mesmo tempo, inventando as piores desculpas enquanto se
embriaga.
Roberto Santucci que filmou o
medíocre “Até Que a Sorte Nos Separe” chega a sua segunda
produção lançada nos cinemas em 2012. Carrega bem ambos os filmes, mas é
sabotado completamente pelas péssimas idéias, ou melhor, pelo péssimo desenvolvimento
delas. Pretensão de produtores? Subestimação de público? Mal gosto? Seja lá o
que for, são filmes para passarem e serem esquecidos, uma memória distante de
um sorriso disposto certa vez no cinema em um filme que mal se lembra o nome. Pensa-se
a mulher moderna, uma mulher que consegue dar conta da saúde e da família
devido o excesso de trabalho, uma moral estabelecida no primeiro filme,
revisitada nesse e ignorada ao final. Lá se foi o ensinamento. No elenco ainda
estão Bruno Garcia, Maria Paula e Eriberto Leão, acrescentando
nulamente em diálogos tanto em português quanto em inglês.
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