terça-feira, 5 de julho de 2011

Proseando sobre... Qualquer Gato Vira-Lata


De início Tati (Cléo Pires) aparece andando pra lá e pra cá em seu apartamento. Ela está pendurada no telefone e procura, indecisa, uma roupa perfeita a fim de se preparar para uma noite que poderia tornar sua relação mais séria. É o aniversário de seu namorado Marcelo (Dudu Azevedo). Após decidir, vai ao encontro do rapaz e o flagra batendo um papo com uma outra garota, agindo com indiferença a sua presença. A desconstrução do ideal romântico apresentado é rapidamente transtornado ao assistirmos Tati rejeitada e sozinha, segurando uma orquídea nas ruas do Rio de Janeiro, chorando e, claro, para piorar, de baixo de chuva. Cléo Pires agora está desarrumada, de maquiagem borrada, molhada e chorosa. Só faltou tocar Radiohead.

Abre-se a comédia romântica “Qualquer Gato Vira-Lata”, um poço de clichês capazes de arrancar risadas do público com as desventuras amorosas da protagonista, prestes a viver um triângulo amoroso recheado de incertezas e mergulhado em teorias amorosas dispostas por um olhar da biologia, comparando humanos e animais, em defesa do papel masculino – e logo entenderemos a razão disso ao conhecermos a terceira ponta do triângulo, o biólogo Conrado (Malvino Salvador). O filme é dirigido por Tomas Portella e Daniela De Carlo, baseando-se numa peça teatral de Juca de Oliveira. Com piadas prontas e com personagens ora cativantes, ora desprezíveis, acompanharemos uma jornada amorosa como qualquer outra, salientando em vários takes as coxas de Cléo Pires – o que faz o público masculino aproveitar algo nesse trabalho essencialmente feminino.

 O desenvolvimento é simples, pouco cordial e inventivo. Apenas simples, como o gênero está acostumado a ser. Aí nesse âmbito começa as identificações de papéis. Conrado é inteligente e desajeitado – seu manuseio com a cafeteira o caracteriza – e tem que despertar a atenção do público feminino, mesmo que nos seja apresentado degradando a função da mulher, motivo suficiente para ganhar aversão deste público. Marcelo é um playboy tolo, despreocupado e de índole insuportável. Cumpre o papel de “vilão” na empreitada. Já Tati é a sonhadora frustrada que decidiu pedir conselhos – a quem? – amorosos de Conrado. Se inicia uma versão às avessas de “Arte, Amor e Ilusão”, sem o equilíbrio e magnitude da obra de Neil LaBute, mas centrando no humano como objeto de estudo.

Feito unicamente para entreter e divertir para logo ser descartado e esperar um novo sucesso que venha alimentar o público faminto pelo gênero, qualquer gato vira-lata tem uma vida sexual mais sadia que a nossa é o típico “sei o que vai acontecer só em ler a sinopse”. De fato cumpre a previsão usando piadinhas aqui e ali, e utilizando um coadjuvante como válvula de escape para outras piadas, talvez as mais divertidas, Álamo (Álamo Faço), o amigo igualmente estúpido de Marcelo. Outras piadas, como a empregada doméstica limpando a casa ou a que Cléo Pires leva um tombo mais constrange do que provoca recreação. Feito à medida e seguindo a risca a receita típica mundial do estilo, é mais uma comédia romântica para se ver, rir e mais tarde esquecer.  

Um comentário:

  1. Ótimo Post, muito bem detalhado, apesar que eu já não animo muito com filmes brasileiros, essa histórinha então piorou, mas a resenha ficou sensacional, parabéns!

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