Honestamente não penso que o filme faça de tudo para nos
emocionarmos. Como se quisessem vender uma ocasião vislumbrando um
sofrimento que escolhemos passar a partir do momento que lemos a sinopse
e seguimos para a sessão. Longe disso. Não faltam exemplos na história
do cinema com tal pretensão. Não é o caso de A Culpa é das Estrelas,
filme inspirado no best seller do escritor John Green. Há elementos
fundamentais que evocam o pranto e contribuem naturalmente para o
despertar da emotividade em diferentes níveis. Aos detratores, parecem
motivados pela ira da provável mesmice que encontraram ou que julgaram
que encontrariam antes mesmo de sentar na sala de cinema; aos que
gostaram, que criticamente ou não avaliaram a obra como um romance
sensível, permitiram-se vivenciar a emoção proposta, algo que funciona.
Algo que naturalmente funciona.
Funciona por perspectivas reais. Todos tem ciência sobre o quão sério
uma doença como o câncer pode ser. Ainda está no imaginário popular a
periculosidade dela, como o anúncio de uma sentença de morte, uma
condenação! O filme não se trata disso, obviamente, mas é o contexto. O
filme trata de um possível romance de alguém cujo ideal de um futuro
feliz fora estremecido quando descobriu que tinha uma doença terminal. O
tempo tornou-se ouro. Para dimensionar a sensação, os protagonistas são
demasiadamente jovens sofrendo juntos, se apegando ao que tem por mais
um dia o qual o sol nasce lhes permitindo aproveitar o tempo que lhes
restam. Isso já é motivo para emocionar uma vez que a empatia é
instantânea. Nos projetamos!
E o câncer é um assunto inesgotável. Não faz muito tempo que rimos com o despudorado 50% (50/50, 2011) ou com o comovente A Guerra Está Declarada (La Guerre est declarée, 2011). Há tantos outros. O fato é que muitos acreditaram que topariam com uma bobagem do nível de Um Amor para Recordar (Walk to Remember, A, 2002) – esse que possui fãs muito mais pelas situações propostas na narração do que pelo filme. Talvez A Culpa é das Estrelas esteja mais próxima do ótimo Inquietos
(Restless, 2011). Aqui dois jovens, Hazel e Augustus, se cruzam num
grupo de apoio a pacientes com câncer. Interagem, brincam, se apaixonam
como qualquer casal adolescente que cria expectativas no outro e se
diverte. No caso, há algo a mais que compartilham, a possibilidade do
futuro explode em suas cabeças bagunçando-os de incertezas, tão
caoticamente como as estrelas no céu. Ainda assim, o conforto vem do
afago de todos em sua volta, algo que a câmera do diretor Josh Boone
consegue compreender burocraticamente. Há ainda uma busca por respostas
vinculada a presença de um escritor na Holanda (esse é vivido por Willem
Dafoe). Os motivos de uma repentina viagem acaba similar a conclusão
escolhida tanto no livro quanto no filme. Um pequeno símbolo do vindouro
oculto.
É definitivamente um filme muito pouco inventivo, não traz muito de
novo. Mas traz o essencial romântico de uma boa história honesta e
verdadeiramente cativante. É verdade que o mérito reside em Shailene
Woodley, atriz que vive Hazel. A menina impressiona, nos mantém ligados e
preocupados frente a sua condição. Seus gestos, sua leveza, sua dicção
garantiu uma das interpretações mais singelas e críveis do ano até
então. A situação da doença felizmente não é romantizada, é
naturalizada. Um desafio conquistado com pouca densidade. Uma pena ver
uma armadilha usual repetida que tira a força em seus minutos finais
quando o uso de um flashback evocativo visa – dessa vez sim – um
acréscimo de emoção. Essa deixa de ser natural pelo que o filme havia
construído até ali. E percebam, a vida não é um lamento, mas uma
celebração. Simples, o longa emociona, é OK.
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