quinta-feira, 10 de julho de 2014

Proseando sobre... Transformers: A Era da Extinção

Não há muito o que acrescentar sobre o novo filme da franquia Transformers que já não tenha sido discutido anteriormente em foruns, críticas ou rodas de conversa durante o lançamento dos três primeiros. É o maniqueísmo barato que poderia ter sido resolvido pelo lado mal em um dos atos iniciais. Não há nada de novo, a não ser os protagonistas humanos. E ter esses novos protagonistas não significa que a história tomará um novo rumo. Pelo contrário, segue numa mesma direção com o talento único de Michael Bay em conceber asneiras cinematográficas atulhadas de pomposos efeitos que representam nada mais que uma limitação criativa, algo que seja engolido com maior facilidade por um público sedento de ação. É injusto chamar o filme de descerebrado ou qualquer coisa do tipo, pois tem dois ou três bons momentos. Além disso, os efeitos visuais e sonoros são esplêndidos, porém insuficientes, perdendo força logo em seus primeiros 90 minutos com sua dinâmica masturbatória. No fim, são apenas grandes robôs – há quem se ofenda com esse termo – brigando.

Este quarto filme baseado nos famosos brinquedos da Hasbro reafirma a maior intenção da franquia: divertir. Faz isso bem. Seria melhor se fosse num tempo menor, pois quase 3h de ação ininterrupta esgota o público, apesar das várias gags e momentos cômicos. Surpreende notar a forma como o roteiro se livra de um alívio cômico que mais soou como um interjetivo aborrecido. A verdade é que falta em Transformers uma boa história que amarre sua ambição, mas com Michael Bay isso parece ser inviável. Não há desculpas, há blockbusters interessantíssimos que não abrem mão de uma boa história. A leviandade das conclusões desse Transformers: A Era da Extinção (Transformers: Age of Extinction, 2014) corrobora a perspectiva de que o entretenimento do cinema Hollywoodiano está em declínio.

Sem Megan Fox e Shia LaBeouf (ator cuja credibilidade foi minada), restou a Bay garantir a presença de um veterano para incendiar um novo plot. Mark Wahlberg foi escalado para protagonizar a fita. Ele está inserido num núcleo familiar que garante um drama de cerca de 5 minutos, algo que nem pastelões adolescentes têm coragem de colocar no roteiro. O que dizer da máxima “sua mãe ficaria orgulhosa”? Ele é um pai protetor que, em nome da honra de sua mulher falecida, quer que a filha só assuma um compromisso após se formar. Há piadas referentes a leis em alguns estados do país sobre relacionamentos com menores, especialmente vinculadas ao Texas. Seu personagem engessado também é um inventor sem sucesso. O roteiro constrange com essa decisão de fazer dele um inventor. O pôster de Einstein colado na parede só acresce o embaraçamento. Sua fé em criar algo que pague as contas da família o mantém na ativa até o dia que compra a sucata de um Transformer e sua vida muda.

Descompromissadamente a obra garante recreação. Só não era esperado uma cena cuja metalinguagem surgisse como ironia à própria produção: a cena em que a sucata de um caminhão é encontrada acontece num cinema antigo. Lá, um personagem saudosista reflete sobre a baixa qualidade dos filmes atuais. Também há uma brincadeira de lógica quando um outro personagem, imediatamente após atravessar de um continente a outro, brinca com a falta de sensibilidade em relação ao fuso horário. É uma autêntica gozação. Se dispensarmos o senso crítico e encararmos Transformers: A Era da Extinção como um desenho animado ou vídeo game onde tudo é possível, dá pra aproveitar. Se isso é possível, é outra história.

Há algumas sequências que nos obrigam a notar mais do que deveríamos uma série de erros de continuidade e de lógica. Por exemplo, o colarinho impecavelmente branco de Joshua (Stanley Tucci, o John Turturro dessa versão) dá a impressão que o empresário teve tempo de trocar de camisa o filme inteiro, mas não teve qualquer condição de lavar o rosto coberto por sujeira. O mesmo se aplica aos outros personagens, em especial Tessa Yeager (Nicola Peltz) que se mantém imaculada como um próprio Transformer com silhueta libidinosa, sem feridas e maquiada, mesmo após sobreviver à queda de escombros colossais, explosões e tombos em rodovias. Está certo, isso não importa para o filme. Bom para os interessados apenas na graça feminina dessa jovem atriz cuja beleza é priorizada em quadros: a fotografia de uma cena capta caprichosamente suas coxas enquanto busca outros personagens à frente. Um regozijo.

Continuações virão com o provável mais do mesmo, sendo que ainda não tornou-se insuportável. Há um público cativo se deleitando propenso a algolagnia. Essa quarta parte chegou a um nível de mediocridade superior garantido pela censura, pois, diante tudo o que rola em cena, os Transformers agora surram humanos. Não dá pra ignorar o fato de milhares que certamente morreram devido as ambições estritamente humanas traduzidas por intrigas de Autobots e Decepticons. É pancadaria do início ao fim, ação enérgica, efeitos primorosos, tomadas em câmera lenta para vermos de fato a criação megalomaníaca de Bay e um som potente, embora ensurdecedor. Não é algo que contemple a coragem de seu realizador, um diretor limitado aparentemente incapaz de dirigir atores e cenas. Aqui ele investe doses a mais de vigor como alternativa para deslumbrar. Hollywood insiste em dizer que o planeta precisa de salvação. O personagem de Tucci é um CEO que visa uma revolução para salvar o mundo. Seu nome, Joshua, não parece ter sido escolhido aleatoriamente. É o grande filme das férias capaz de levar milhares ao cinema com o mesmo potencial de ser ignorado na manhã seguinte.



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