Há quem pense que o filme
trata do embate do século no boxe, ou coisa parecida. Não é difícil imaginar, basta lembrarmos e nos
transportarmos ao final dos anos 70. Veremos Rocky Balboa e Jake La Motta se
enfrentando no ringue e, espera, não é bem isso. A nostalgia está completamente
a favor do filme, já que assistimos Sylvester Stallone e Robert De Niro, atores
que viveram personagens pugilistas históricos, frente a frente. Aposentados dos
ringues, eles retornarão para um novo desafio, um acerto de contas que se
arrastou por 30 anos desde a última vez que lutaram. Há outras implicações que
os opõem. As circunstâncias são outras, o tempo os alcançou e tirou suas
habilidades, mas a técnica persistiu. Veremos Stallone contra De Niro, eles vivem, respectivamente,
Henry 'Razor' Sharp e Billy 'The Kid' McDonnen.
A rivalidade entre a dupla, que é
o fio condutor da trama, deixa lapsos de memória dos fãs das antigas em vários
pontos. Primeiramente com a computação gráfica que rejuvenesce os atores,
aproximando-os dos velhos tempos no cinema. Também há uma série de referências
a Touro Indomável (Raging Bull,
1980) e mais especificamente a Rocky, Um
Lutador (Rocky, 1976) dando ao filme um caráter de sessão nostalgia. É bom
ver, é bom presenciar atores cuja relevância ao cinema é inquestionável,
revivendo personagens próximos daqueles em que atingiram a glória. Desfavorecendo
o longa está a própria história que se entrega ao drama piegas da redenção.
Fica chato acompanha-lo em alguns instantes.
O cinema vem numa onda de trazer
de volta alguns ícones da ação dos anos 70 e 80. Foi assim com Os Mercenários (Expendables, The, 2010)
e RED – Aposentados e Perigosos (Red,
2010), explorando alguns atores entrando de cabeça na ação desenfreada mostrando
que o envelhecimento serviu apenas para tirar alguns reflexos e minúcias. Praticamente
continuam os mesmos. Isso acontece numa época em que estamos olhando com maior
cuidado para a terceira idade. Adequadíssimo e necessário. Já esse Ajuste de Contas vem divertir com o
frágil roteiro, vem representar o passado a partir de novas figuras, e isso
passa a se questionável, já que a admiração termina ofuscada pela piedade. O humor
instalado desde o início da projeção trata prioritariamente de revelar os novos
tempos, esses tempos que esquecem de alguns que outrora foram importantes,
tempos em que outros não conseguiram acompanhar – a tecnologia exibida
envelhece ainda mais seus protagonistas incapazes de saber, nem mesmo, o que é
o youtube.
O diretor Peter Segal pouco
contribui para a obra, ela está semi cozida, precisando de um trato final. Esse
não é dado. O roteiro ruim não permite alçar vôos maiores, parece achar o
bastante a solidariedade e identificação dos cinéfilos – e fãs dos atores e
seus respectivos personagens memoráveis referenciados – para o filme dar certo.
Isso é pouco, pouco pelo que de fato representam. Enquanto Stallone e De Niro
se divertem, Kim Basinger dignifica com sua beleza ao passo que o talentosíssimo
Alan Arkin crava os melhores momentos. Jon Bernthal, o Shane de The Walking
Dead vive, ahhh, Jon Bernthal, inexpressivo. Já Kevin Hart, o jovem empresário
no mercado de lutas, tem seu timing cômico provado e muitas vezes
excessivamente utilizado. O humor transcende a representação histórica, uma das
cenas mais célebres está durante os créditos. Cena que a maioria dos pastelões
mais populares do cinema contemporâneo não foram capazes de conceber.
Nenhum comentário:
Postar um comentário