sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Proseando sobre... Confissões de Adolescente




Que dureza essa história de falar de adolescência no cinema, ainda mais trazendo tantos em cena e procurando tratar de suas complexidades ao longo de 100 minutos. Não dá. Baita desafio que esse Confissões de Adolescente se propõe consumar. E olha só, consegue o feito de não ser desastroso. Há quem prefira que o filme continuasse enquanto série televisiva, exibida pela Tv Cultura. Talvez devesse mesmo. O fato é que, enquanto filme, levanta algumas mazelas corriqueiras que estamos habituados a acompanhar nos jovens. Faz isso com delicadeza e algumas pontas de ousadias, muito embora termine conservador demais, como se alguns assuntos fossem demasiado sérios para serem expostos na telona. O filme não vai muito longe nas mãos de Daniel Filho e Cris D'Amato, mas ao menos sai do lugar, o que já é muito.

Daniel Filho era o diretor da série. Acostumado com o assunto, não teve muita dificuldade em adapta-la para o cinema. Isso é visível na direção dos atores – formado por caras conhecidas e outros estreantes – e decisões narrativas, sempre indo pelo caminho seguro, às vezes levantando algumas questões, deixando-as suspensas sem preocupações em aprofundá-las. Aconteceu com o primeiro beijo, ou quando tratou da perda da virgindade, do bullyng e de uma paixão homossexual, e também nas cenas em que revelou as inseguranças de quatro garotas após descobrirem problemas financeiros e o risco de terem de se afastar dos amigos. São essas quatro que protagonizam a fita, quatro irmãs, tudo gira em torno delas.

As meninas são vividas por Sophia Abrahão, Bella Camero, Malu Rodrigues e Clara Tiezzi. Quando o pai (Cássio Gabus Mendes) avisa que precisarão se mudar por conta de gastos abusivos, a história começa a se desenrolar, mostrando angústias banais – mas de grande dimensão para adolescentes – relativas às novas condições que terão de enfrentar. A dinâmica entre as atrizes é boa, sustenta a trama e imprime um tom de verdade às situações. Não é um filme de interpretações, já que as atrizes estão vivendo a fase que demonstram em cena e colocam claramente percepções de si nos personagens. Falta, sem dúvidas, toda uma profundidade em volta dos acontecimentos e no núcleo de relações. As hostilizações e desentendimentos são vagos. O humor é tendencioso, porém funcional. O filme sai em tempos os quais a adolescência vem se tornando um subgênero do cinema nacional, a exemplo de obras como Antes Que o Mundo Acabe (idem, 2009), As Melhores Coisas do Mundo (idem, 2010) e Desenrola (idem, 2010).

A sacada dessas confissões vem de encontro aos novos métodos criados na internet. Estamos em uma época de grande exposição e as confissões, anteriormente deixadas em diários, ganha outras vertentes. Difere-se completamente da vista na série. Blogs, vlogs, redes sociais são alguns dos artifícios utilizados ao longo do filme, retratando com cuidado o público de hoje. Rola empatia, sem dúvida, é o retrato de uma geração. Corre o risco de tornar-se datado, mas quem não imagina que em 20 anos uma nova versão possa surgir com o frescor do que virá no futuro? Ao final rola até uma grata surpresa com relação ao tempo e o envolvimento de alguns personagens com ele. Através disso, acompanhamos uma progressão temporal e os resultados das experiências tensas de outrora ainda ecoando no presente, mas dessa vez com humor. Temos uma faísca de lembranças nostálgicas e gostosas sobre alguns ritos.


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