Filme de amplitude ímpar, “Asas do Desejo” trata sobre o ser
humano a partir de outra noção de mundo, numa hipótese bela e mágica, traduzida
com sensibilidade pelo diretor Wim Wenders. Anjos caminham pela terra
confortando vidas, as pessoas não podem vê-los. Um desses anjos deseja
tornar-se humano para experimentar os sentidos da existência. Disposto a abrir
mão de sua imortalidade, torna-se humano e passa a vagar pelas ruas a
compreender o que antes lhe era uma mistério: as relações, as dinâmicas
pessoais, o afeto e o amor; além de tratar em suma da finitude e do interesse
pelo desconhecido. Passado em Berlim, o filme explana a cultura econômica e
política através dos personagens humanos. Aqui compreendemos a visão tanto dos
anjos quanto das pessoas através da câmera em movimento do cineasta, herança
histórica do cinema alemão lá da década de 20. O mundo visto pelos alados
vestidos de preto é compreendido em preto e branco, ao passo que o dos seres
humanos é colorido. Há algo diferente nesse horizonte artístico proposto por
Wenders, sendo subjetivamente compreendido. É demasiado arrastado, o que pode
afastar alguns espectadores, mas não tira sua beleza. Culminamos, após tantas
constatações, na visão desejosa do anjo Damiel (Bruno Ganz) que observa o
treinamento de uma trapezista, a paixão assombra, o oculto se ilumina
limpidamente e confusamente, como um cego que subitamente passou a
enxergar.
Direção: Wim Wenders
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