segunda-feira, 2 de julho de 2012

Proseando sobre... A Era do Gelo 4


Eis uma quarta aventura para a trupe dos carismáticos e divertidos protagonistas de “A Era do Gelo”, animação que vem marcando o cinema com humor pontual e crítica ambiental há exatos 10 anos. Todavia, a criatividade e a graça contínua empregada nos longas do início da franquia congelaram. Tudo está repetitivo e aborrecido, sem qualquer novidade, a não ser o aparecimento de novos personagens – desculpa para prováveis futuras explorações – e conjunções a respeito da constituição da terra a partir dos desastrosos atos de sua mais ilustre figura, o esquilo Scrat. 

Manny (voz de Ray Romano), Diego (voz de Denis Leary) e Sid (voz de John Leguizamo) retornam com a história girando em torno do mamute. Seu excessivo cuidado paterno causa severas intrigas e palavras dolorosamente disparadas minutos antes de um desgelo fulminante que termina por separá-lo da família quando uma cratera eclode em sua frente. O continente se rompendo rima com o relacionamento fraterno se desfazendo, deixando sobre um iceberg os inseparáveis amigos à deriva no oceano enquanto do outro lado assenta o remorso. Perdidos no mar, têm início uma odisséia para o trio – e mais um – que enfrentará riscos como a fúria de uma tempestade, sereias e o avanço de piratas navegando num navio de gelo, liderado pelo inescrupuloso macaco Entranha (voz de Peter Dinklage). 

Quem ficou de fora dessa quarta empreitada foi o cineasta brasileiro Carlos Saldanha (diretor dos 3 primeiros filmes) que vem se dedicando a animação “Rio”. A bomba caiu sobre as mãos da dupla Steve Martino e Mike Thurmeier – este segundo dividiu a direção com Saldanha em “A Era do Gelo 3”. Familiarizados com esse universo, ambos tratam com responsabilidade a leveza da trama, preparando um filme enxuto e alegre, condescendente a um público jovem que não sofreu com o notável desgaste da série. Intrigas tolas e relações estremecidas por orgulho e conotações românticas defendidas pela esquiva para não demonstrar interesse – surge um par romântico para Diego – são algumas repetições de idéias usuais que fizeram mal a franquia que conta com respingos de real valia quando Scrat está em cena em doses. Esses curtos instantes são ao menos o bastante para empurrar a história. Sua associação com Atlântida é certamente o melhor momento do filme.     

Há uma dramatização acompanhando a família dos mamutes quando a filha de Manny, a adolescente Amora, culpa o pai por um fracasso amoroso. Nesse âmbito se expõe as possibilidades de relações com uma impregnada moral de auto conhecimento e respeito pelo outro, não importando gênero, etnia, raça etc etc. Tudo é realizado de maneira infantil e pouquíssimo eficiente, travestindo valores por interesse pessoal e estereótipos típicos da adolescência, acentuando o bullyng no distanciamento de um determinado grupo por não corresponder as expectativas deste. 

A qualidade da narrativa é ignorada em nome da diversão, com passagens realizadas unicamente para o feitio da tridimensionalidade buscando impressionar com a profundidade das cenas ilustrando as magnânimas geleiras ou o oceano dançando enquanto espirra água na tela. O formato compreendendo a moda se mistura com tipificações do cotidiano, transitando vagamente por noções de caráter humano representados por animais: o abandono graças ao envelhecimento, a família em discórdia, a cultura de um povo causando estranhamento social, o respeito pela diferença e a loucura questionada. 

Já o âmbito técnico é irrefutável. O cuidado na composição dos personagens é tremendo com detalhes significativos bem trabalhados, por exemplo os pêlos e os olhares. O desenho de produção auxiliado ao 3D contribui para o universo refletido, enobrecendo as belas paisagens compostas por imensas geleiras, ilhas perdidas no horizonte e o alto mar. Nestes cenários de rebuscadas elaborações visuais, o longa mantém a igualitária qualidade de seus antecessores. Pra somar, boas cenas de ação são criadas, dominando a ótica da violência daquele tempo de modo contido por óbvias razões. Uma cena veiculada a “Coração Valente” garante uma boa piada aos mais crescidos. Diante tantas questões, a fraqueza da empreitada é perceptível, sua necessidade de se reinventar faz-se necessária para derreter a má impressão desta continuação infeliz.   


 

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