Eis uma quarta aventura para a trupe
dos carismáticos e divertidos protagonistas de “A Era do Gelo”, animação que
vem marcando o cinema com humor pontual e crítica ambiental há exatos 10 anos. Todavia,
a criatividade e a graça contínua empregada nos longas do início da franquia
congelaram. Tudo está repetitivo e aborrecido, sem qualquer novidade, a não ser
o aparecimento de novos personagens – desculpa para prováveis futuras
explorações – e conjunções a respeito da constituição da terra a partir dos
desastrosos atos de sua mais ilustre figura, o esquilo Scrat.
Manny (voz de Ray Romano), Diego
(voz de Denis Leary) e Sid (voz de John Leguizamo) retornam com a história
girando em torno do mamute. Seu excessivo cuidado paterno causa severas
intrigas e palavras dolorosamente disparadas minutos antes de um desgelo
fulminante que termina por separá-lo da família quando uma cratera eclode em
sua frente. O continente se rompendo rima com o relacionamento fraterno se
desfazendo, deixando sobre um iceberg os inseparáveis amigos à deriva no oceano
enquanto do outro lado assenta o remorso. Perdidos no mar, têm início uma
odisséia para o trio – e mais um – que enfrentará riscos como a fúria de uma
tempestade, sereias e o avanço de piratas navegando num navio de gelo, liderado
pelo inescrupuloso macaco Entranha (voz de Peter Dinklage).
Quem ficou de fora dessa quarta
empreitada foi o cineasta brasileiro Carlos Saldanha (diretor
dos 3 primeiros filmes) que vem se dedicando a animação “Rio”. A bomba caiu
sobre as mãos da dupla Steve Martino e Mike Thurmeier – este segundo
dividiu a direção com Saldanha em “A Era do Gelo 3”. Familiarizados
com esse universo, ambos tratam com responsabilidade a leveza da trama,
preparando um filme enxuto e alegre, condescendente a um público jovem que não
sofreu com o notável desgaste da série. Intrigas tolas e relações estremecidas
por orgulho e conotações românticas defendidas pela esquiva para não demonstrar
interesse – surge um par romântico para Diego – são algumas repetições de
idéias usuais que fizeram mal a franquia que conta com respingos de real valia
quando Scrat está em cena em doses. Esses curtos instantes são ao menos o
bastante para empurrar a história. Sua associação com Atlântida é certamente o
melhor momento do filme.
Há uma dramatização acompanhando
a família dos mamutes quando a filha de Manny, a adolescente Amora, culpa o pai
por um fracasso amoroso. Nesse âmbito se expõe as possibilidades de relações
com uma impregnada moral de auto conhecimento e respeito pelo outro, não
importando gênero, etnia, raça etc etc. Tudo é realizado de maneira infantil e
pouquíssimo eficiente, travestindo valores por interesse pessoal e estereótipos
típicos da adolescência, acentuando o bullyng no distanciamento de um
determinado grupo por não corresponder as expectativas deste.
A qualidade da narrativa é
ignorada em nome da diversão, com passagens realizadas unicamente para o feitio
da tridimensionalidade buscando impressionar com a profundidade das cenas
ilustrando as magnânimas geleiras ou o oceano dançando enquanto espirra água na
tela. O formato compreendendo a moda se mistura com tipificações do cotidiano,
transitando vagamente por noções de caráter humano representados por animais: o
abandono graças ao envelhecimento, a família em discórdia, a cultura de um povo
causando estranhamento social, o respeito pela diferença e a loucura
questionada.
Já o âmbito técnico é
irrefutável. O cuidado na composição dos personagens é tremendo com detalhes
significativos bem trabalhados, por exemplo os pêlos e os olhares. O desenho de
produção auxiliado ao 3D contribui para o universo refletido, enobrecendo as
belas paisagens compostas por imensas geleiras, ilhas perdidas no horizonte e o
alto mar. Nestes cenários de rebuscadas elaborações visuais, o longa mantém a
igualitária qualidade de seus antecessores. Pra somar, boas cenas de ação são
criadas, dominando a ótica da violência daquele tempo de modo contido por óbvias
razões. Uma cena veiculada a “Coração Valente” garante uma boa piada aos mais
crescidos. Diante tantas questões, a fraqueza da empreitada é perceptível, sua
necessidade de se reinventar faz-se necessária para derreter a má impressão desta
continuação infeliz.
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