Tom Cruise a pouco esteve na Rússia em seu 4º Missão Impossível. O país ganhou novos visitantes americanos liderados pelo bom ator Emile Hirsch. Moscou, cidade que ambienta todo o filme, parece uma terra de bandidos, algo indicado quando um tal de Skyler (Joel Kinnaman) profere, imediatamente após roubar uma idéia milionária de jovens programadores americanos, a seguinte afirmação: “this is Russia”. Logo depois isso é ignorado, com um vilão construído em minutos convertendo-se num companheiro mal caráter que coincidentemente foi comemorar sua vitória na mesma boite que os amigos programadores vitimizados foram tentar esquecer o golpe. Numa terra com mais de 10 milhões de habitantes, pessoas rapidamente apresentadas – envolvendo duas mulheres também americanas – foram parar no mesmo lugar.
Direto ao que interessa, é o que o diretor Chris Gorak propõe. Após ter causado furor em Los Angeles em “Toque de Recolher”, ele atravessa o oceano a caminho da capital russa, onde, durante a noite, acontece um espetáculo visual no céu, tão belo que faz um dos personagens crer estar diante a aurora boreal. Não demora e luzes douradas despencam até as ruas, elas vão desaparecendo amenamente. Logo estas curiosas iluminações começam a caçar humanos, desintegrá-los. Pânico em Moscou, correria e gritaria. A ameaça invisível bebe da fonte de “Predador” durante sua caça ao enxergar a energia do corpo humano, como o alienígena oitentista reconhecia o calor. Os bloqueios em ambos (barro em um, vidro em outro) causam bons momentos de tensão.
Alguns dias reunidos no depósito da boite, 5 sobreviventes da devastação decidem sair e ir em busca da embaixada americana. Escolha ingênua diante uma cidade destruída e dominada. Dois amigos, duas garotas e Skyler, um sueco que prova de vez seu caráter ao abandonar uma garota durante a fuga, lutam juntos. O grupo caminha pelos becos de uma Moscou esvaziada, restrita ao pó dos mortos, numa tomada idêntica a caminhada do personagem de Cillian Murphy em Londres no horror “Extermínio”. Há até um encontro futuro parecidíssimo no alto de um prédio. Eles vão colhendo informações a respeito do ataque, percebendo o interesse daqueles ovnis pela energia de nosso planeta.
Os aspectos técnicos sem novidades servem para modelar o projeto com uma ótica diferente sobre ataques alienígenas, embora luzes sejam o foco central e o interesse pela invasão uma denuncia sem enrolações. O que permite que o filme seja assistível é a busca por sobrevivência de seus personagens mesmo que estes vivenciem cenas torpes, como o esconderijo em baixo de uma viatura. Se era pra tirar o fôlego, conseguiu fazer rir. A ação convencional revisitada pouco impressiona e os personagens motivados por um patriotismo cego explicita o amadorismo dos roteiristas, aliás, tanto o roteiro quanto o diretor parecem ignorar completamente o percurso do grupo atravessando a imensa cidade. Também existem as catástrofes que não vimos. Acompanhamos os resultados destas em planos economicos, como um navio que destruiu uma ponte e um avião arrasado numa galeria.
Fugindo dos Estados Unidos, os alienígenas vem buscando outras terras – “Distrito 9” –é um marco feliz nesse sentido com uma nave sobre Joanesburgo – muito embora temos a informação que a invasão aconteceu em todo o planeta. Ao menos é interessante ver os efeitos deixando a capital russa completamente vazia, apoiada por uma direção artística escurecida, com um sol quase omisso. Comparações a outros projetos são absolutamente cabíveis, como o recente e horroroso “Skyline”, até “Guerra dos Mundos” de Spielberg e sua hipótese de aniquilação. Em “A Hora da Escuridão” não há grandes argumentos para sustentar a história, há o porquê e o que se pode fazer contra ele. É no mínimo lamentável ver Emile Hirsch envolvido em uma obra assim, um deslize em sua próspera carreira. E depois da escuridão da sala de cinema, que os espectadores procurem outra sessão compensadora.
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