Na onda 3D, Spielberg aborda um clássico dos quadrinhos e cria uma história permeada pelo puro divertimento, de um modo descompromissado com a obrigatoriedade de justificar quem é Tintim, mas esboça-lo com traços magníficos, numa aventura ágil e esquemática, expressando o brilho das obras concebidas no início de sua carreira. O motion capture exalta cuidadosamente características dos contextos e de seus personagens, empregando minúcias técnicas artísticas sugerindo um universo luxuoso. A aventura está garantida nessa adaptação da obra de Hergé com seu ilustre personagem, o jovem jornalista aventureiro Tintim e seu cão numa busca pelo segredo de um navio.
O início abre como um cartão de visitas do que virá, Tintim está sentado enquanto um artista lhe desenha. Com a obra pronta, uma singela homenagem, o rosto universalmente famoso do jornalista em contraste com sua nova versão, como se apresentasse para o público sua nova forma contrapondo a conhecida nos quadrinhos. Com ela, espera uma aprovação. O ritmo do longa logo é ditado, acompanhamos um batedor de carteiras roubar numa praça, lembrando diretamente a obra de Robert Bresson de 1959. O talentoso ladrão torna-se personagem fundamental na trama, mas fica para um segundo momento. O foco deste prólogo é Tintim.
A réplica do Licorne, um colecionável encontrando numa feira, é pexinxado. Não demora para o modelo tornar-se um alvo de disputa mortal, pois esconde um segredo secular. Movido pela curiosidade, o loiro de topete é levado ao nome de uma quase extinta família, os Haddock. O jovem jornalista propenso a grandes aventuras torna-se alvo de homens violentos, capazes de qualquer coisa pelo segredo escondido no pequeno navio. O roteiro se delonga em cima dessa busca, num clima próximo ao de “Os Caçadores da arca perdida” numa outra ambientação, porém com atos igualmente marcantes. A perseguição em Bagghar é longa e poderosa, mantendo o espectador antenado. É de longe uma das mais significativas dos últimos anos.
O diretor visa também brincar com as imagens, com aparatos criativos certeiros que funcionam com o público, como a apresentação breve de seu herói de uma forma cartunista, em quadros nas paredes registrando matérias passadas extraordinárias. Procura também humaniza-los, vai longe com planos lançando adicções ou manias (fica claro o alcoolismo do Capitão Haddock e a cleptomania como justificativa ao sujeito e as várias carteiras roubadas). A produção é bárbara, com a técnica do motion capture atingindo a perfeição em micro detalhes, como sombras, saliva e a areia de um deserto. A cena da fusão desta com o mar chama a atenção. Os atores cujas feições capturadas digitalmente dão força aos bons personagens, entre eles Andy Serkis, que vive Haddock, contribuindo para as expressões trôpegas do capitão barbudo. Recentemente Serkis destacou-se ao viver o macaco César no novo “Planeta dos Macacos”.
O universo criado por Hergé é modelado segundo o cinemão, ganhará novos admiradores e divertirá a platéia com a assinatura de Steven Spielberg, legitimando um projeto enérgico, sem as tradicionais cargas emotivas costumeiras. Fruto de anos de estudo e de contato com familiares de Hergé, Spielberg lançou uma pequena pérola do gênero da animação com a tecnologia da captura dos movimentos em grande estilo. É entretenimento de bom gosto, imperdível.
Ótimo post!
ResponderExcluirSó faltou citar o ícone nerd que está presente na produção do filme, Peter Jackson, só pra dar mais peso aos bastidores.
Com certeza deve ser um grande, e um grande favorito ao Óscar de melhor animação.