domingo, 7 de agosto de 2011

Proseando sobre... Meia Noite em Paris



De natureza quase onírica, essa nova obra de Woody Allen exalta Paris, exala sua intimidade e prova de sua cultura através de uma narração ilógica e fantasiosa, percorrendo décadas, saindo de 2010 e mergulhando nos anos 20 em meio a companhias pra lá de extraordinárias. O longa abre trazendo Paris com seus pontos turísticos, e o trabalho de fotografia explora um dia nessa cidade até seu anoitecer com sua beleza ficando ainda mais vigente. O cenário é romântico, o que se trata é uma paixão absolutamente perceptível do público sobre uma declaração de amor do diretor pela cidade. Isso nos soa admiravelmente belo.

Um roteirista americano, Gil Pender (Owen Wilson), quer escrever um romance. Ele vai buscar inspiração na capital francesa ao lado da noiva Inez (Rachel McAdams) e dos sogros. Ali, pouco a pouco revela sua frustração pela década a qual vive, idealizando a possibilidade de ter vivido nos anos 20 e tido contato com seus ídolos, entre eles F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway. Tal desejo é compartilhado com muitos de nós, afinal, quem nunca se imaginou vivendo em outros tempos? O foco dessa narrativa escrita por Allen denota um desejo distante, principalmente ao constatarmos o universo o qual Gil está inserido, ignorado por Inez, interessada no irritante intelectual Paul (Michael Sheen) e pouco preocupada com as dificuldades de seu noivo com o livro.

Allen justifica seu estilo ao apresentar seu protagonista. De fala rápida e neurótica, parece fascinado unicamente com o passado não notando as relações a sua volta. Owen Wilson absorve com seu carisma o trejeito marcante de seu diretor, tornando-se uma figura simpática e cômica na trama, fórmula que o consagrou, aqui ainda mais usual e necessária. McAdams, atriz costumeiramente envolvida com personagens doces e delicadas, nos irrita com sua mesquinhez e proposta parasita, evidenciada por sua futilidade naquele contexto. Após embaraços, Gil se perde pelas ruas de Paris e diante o badalar da meia noite, é convidado a entrar num carro estranho... e sua jornada se inicia.

Os anos 20 ganham forma, ícones do passado surgem em cena. Cole Porter (Yves Heck) está tocando em um bar, Zelda Fitzgerald (Alison Pill) e F. Scott Fitzgerald (Tom Hiddleston) lhe assistem. Hemingway (Corey Stoll) está bebendo sozinho e lhe dá conselhos. Gil Pender não acredita, sorri como se aquilo fosse um sonho. Parece. Não é. Pablo Picasso (Marcial Di Fonzo Bo) aparece junto a Gertrude Stein (Kathy Bates), que por sua vez ouve as angústias do pintor espanhol que acabara de conceber uma nova obra cuja estrela é a bela Adriana (vivida pela estonteante Marion Cotillard). Que universo fantástico se transforma nas noites parisienses para o escritor que consegue acessar seus maiores ídolos e cruzar com nomes imortais – que cena espetacular é a de Salvador Dali (Adrien Brody) e sua obsessão por rinocerontes.

A narrativa proposta por Allen é uma fantasia semelhante às ocorridas em outras de suas obras, como “A Rosa Púrpura do Cairo” e “Desconstruindo Harry”. Aqui, o lampejo criativo é extenso, sobra beleza e ganha vivacidade, é impossível ignorar o que realmente está acontecendo. O interesse proposto já nos era conhecido, e como metáfora de sua própria história, o livro de Gil antecede seu destino num determinado ato. Seu real interesse se confronta aos preceitos da família da noiva, mas se dividem com personagens sensíveis, como a guia turística (vivida por Carla Bruni numa ponta) e a garota da loja de antiguidades, Gabrielle (Léa Seydoux, de “A Bela Junie”). O trabalho de fotografia de Darius Khondji reporta a luzes cuja sensação de calor e prazer logo é realçada, ao passo que o presente triste é iludido.

Dirigido magistralmente por Woody Allen, – esse é seu grande trabalho em anos – este longa prova que o diretor está em plena forma realizando trabalhos anuais. Esse salto no tempo ganha um interesse considerável ao refletirmos sobre o passado, suas possibilidades e o “e se”. Não dá para estar sempre satisfeito. Nessa concepção romântica temporal, a era de ouro é elevada, nela Adriana também idealiza um retorno, a Belle Époque, e a constância disso é interminável. São filmes como esse “Meia Noite em Paris” que nos faz pensar o quanto o cinema, em sua excelência, é capaz de nos encantar. Não somente isso, emocionar e nos fazer rir. Destaca-se em projetos desse tipo sacadas de grandes nomes do cinema que permanecem irretocáveis. Dentre várias cenas expostas aqui, é difícil não mencionar a discussão no museu e a indicação de Gil para Luis Buñuel (Adrien de Van) a respeito do trabalho que filmaria, “O Anjo Exterminador”. É extasiante. 

Um comentário:

  1. ótimo texto, marcelo! o filme realmente nos encanta e ficamos tão empolgados quanto o protagonista ao encontrar tantas personalidades. chorei de rir na cena do dali falando dos rinocerontes hsiuasiah genial esse filme. um beijo!

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