segunda-feira, 18 de março de 2013

Proseando sobre... O Lado bom da Vida



David O. Russell chamou a atenção do público pela comédia rebuscada “Huckabees - A Vida É uma Comédia”, filmada em 2004, que contava com um grande elenco encabeçado por nomes como Dustin Hoffman, Isabelle Huppert, Naomi Watts e uma das loiras de Hitchcock, Tippi Hedren. Foi pretensioso, todavia original. Em 2010 filmou “O Vencedor”, belo drama biográfico sobre o pugilista Micky Ward e seu irmão Dicky, viciado em craque. Foi indicado ao Oscar entre outras premiações. Dessa vez ele trouxe “O Lado Bom da Vida” e conquistou novamente a atenção da academia de Hollywood com um filme que não segue a linha formulaica das comédias românticas americanas, se destacando pela temática e bom elenco. Ainda que se distancie do lugar comum do gênero, revela-se simplório diante o que desejou trazer e ser em seus 120 minutos. 

Baseado no romance homônimo de Matthew Quick, “O Lado Bom da Vida” traz Pat Solitano (Bradley Cooper), um ex-professor que ficou um longo período internado numa clínica psiquiátrica após um evento infeliz de seu passado. Agindo expansivamente e maniacamente, ele conquista sua liberdade e busca reconciliações tanto com a família quanto com a ex-esposa. Somos apresentados a todo o contexto do personagem e entramos de cabeça na história que é desenvolvida livremente sem inventividades. A narrativa linear traz alguns poucos flashbacks e inspira nossa atenção por Pat e suas ações. Ao lado de pais igualmente desequilibrados – bem vividos por Robert De Niro e Jacki Weaver do feroz “Reino Animal” –, o jovem procura recomeçar a vida, encontrando no caminho pessoas que se afastaram devido sua condição. Um norte, por sua vez, surge durante um jantar na casa de amigos.

O longa curva-se para a saúde mental, acometendo boa parte dos protagonistas cujo desequilíbrio e ambigüidade faz ponte com a narrativa, igualmente oscilante já que passa da comédia leve para o drama pesado rapidamente, tal como as constantes mudanças de humor de Pat. Boa investida de O. Russell que conhece o talento de seu elenco e percebe Cooper a vontade no papel. A naturalidade é o trunfo do longa, porém, essa virtude concebida pelo diretor é sabotada por escolhas do mesmo, por exemplo quando busca detalhar comportamentos – como as mãos agitadas do protagonista –, não permitindo um quadro que enfoque inteiramente o que sucede-se em cena. 

Vários clichês também atormentam. Isso é considerado um problemão, no entanto, como tanto questiono: como fugir deles? Aqui todos são perceptíveis, sejam pela lógica estrutural do filme como pela dinâmica dos personagens. Aí venho falar do norte encontrado durante o jantar do parágrafo anterior: a instável Tiffany (Jennifer Lawrence). Acometida por problemas psicológicos, a garota possui um passado traiçoeiro e convive com memórias ruins, instabilidade de humor e solidariedade asfixiante de muitos a sua volta, o que explica suas reações defensivas. Lawrence imprime a faceta de imponência frente a fragilidade da garota, de maneira não muito distante da que realizou no belíssimo “Inverno da Alma”

Esse é um bom filme com atributos significativos no que diz respeito a relações humanas, respeito e saúde mental, no entanto está demasiado longe de ser reconhecido como fora. É bom acompanhá-lo, perceber suas qualidades cinematográficas e diferenciação, sobressaindo-se comparado a um gênero tão gasto como a das comédias românticas, resistentes em inovações. Faz rir, diverte e questiona ações, o que já é muito. Também foi bom assistir Robert De Niro sair da zona de conforto e moldar um dos personagens mais curiosos do longa, permanecendo intraduzível até seu ato final. E Bradley Cooper, vale dizer, deverá ser convidado a interpretar personagens bem melhores. Boas colheitas num pequeno bom filme.      


Um comentário:

  1. Achei um feel good movie bem acima da média, apoiado em personagens encantadores (e muito bem interpretados) e um roteiro, se não inovador, ao menos bastante agradável.

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