David O. Russell chamou a atenção
do público pela comédia rebuscada “Huckabees - A Vida É uma Comédia”, filmada
em 2004, que contava com um grande elenco encabeçado por nomes como Dustin
Hoffman, Isabelle Huppert, Naomi Watts e uma das loiras de Hitchcock, Tippi
Hedren. Foi pretensioso, todavia original. Em 2010 filmou “O Vencedor”, belo
drama biográfico sobre o pugilista Micky Ward e seu irmão Dicky, viciado em
craque. Foi indicado ao Oscar entre outras premiações. Dessa vez ele trouxe “O
Lado Bom da Vida” e conquistou novamente a atenção da academia de Hollywood com
um filme que não segue a linha formulaica das comédias românticas americanas,
se destacando pela temática e bom elenco. Ainda que se distancie do lugar comum
do gênero, revela-se simplório diante o que desejou trazer e ser em seus 120
minutos.
Baseado no romance homônimo de
Matthew Quick, “O Lado Bom da Vida” traz Pat Solitano (Bradley Cooper), um ex-professor
que ficou um longo período internado numa clínica psiquiátrica após um evento
infeliz de seu passado. Agindo expansivamente e maniacamente, ele conquista sua
liberdade e busca reconciliações tanto com a família quanto com a ex-esposa.
Somos apresentados a todo o contexto do personagem e entramos de cabeça na
história que é desenvolvida livremente sem inventividades. A narrativa linear
traz alguns poucos flashbacks e inspira nossa atenção por Pat e suas ações. Ao lado
de pais igualmente desequilibrados – bem vividos por Robert De Niro e Jacki
Weaver do feroz “Reino Animal” –, o jovem procura recomeçar a vida, encontrando
no caminho pessoas que se afastaram devido sua condição. Um norte, por sua vez,
surge durante um jantar na casa de amigos.
O longa curva-se para a saúde
mental, acometendo boa parte dos protagonistas cujo desequilíbrio e ambigüidade
faz ponte com a narrativa, igualmente oscilante já que passa da comédia leve para
o drama pesado rapidamente, tal como as constantes mudanças de humor de Pat.
Boa investida de O. Russell que conhece o talento de seu elenco e percebe
Cooper a vontade no papel. A naturalidade é o trunfo do longa, porém, essa
virtude concebida pelo diretor é sabotada por escolhas do mesmo, por exemplo
quando busca detalhar comportamentos – como as mãos agitadas do protagonista –,
não permitindo um quadro que enfoque inteiramente o que sucede-se em cena.
Vários clichês também atormentam.
Isso é considerado um problemão, no entanto, como tanto questiono: como fugir
deles? Aqui todos são perceptíveis, sejam pela lógica estrutural do filme como
pela dinâmica dos personagens. Aí venho falar do norte encontrado durante o
jantar do parágrafo anterior: a instável Tiffany (Jennifer Lawrence). Acometida
por problemas psicológicos, a garota possui um passado traiçoeiro e convive com
memórias ruins, instabilidade de humor e solidariedade asfixiante de muitos a
sua volta, o que explica suas reações defensivas. Lawrence imprime a faceta de
imponência frente a fragilidade da garota, de maneira não muito distante da que
realizou no belíssimo “Inverno da Alma”.
Esse é um bom filme com atributos
significativos no que diz respeito a relações humanas, respeito e saúde mental,
no entanto está demasiado longe de ser reconhecido como fora. É bom
acompanhá-lo, perceber suas qualidades cinematográficas e diferenciação,
sobressaindo-se comparado a um gênero tão gasto como a das comédias românticas,
resistentes em inovações. Faz rir, diverte e questiona ações, o que já é muito.
Também foi bom assistir Robert De Niro sair da zona de conforto e moldar um dos
personagens mais curiosos do longa, permanecendo intraduzível até seu ato
final. E Bradley Cooper, vale dizer, deverá ser convidado a interpretar
personagens bem melhores. Boas colheitas num pequeno bom filme.
Achei um feel good movie bem acima da média, apoiado em personagens encantadores (e muito bem interpretados) e um roteiro, se não inovador, ao menos bastante agradável.
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