A alçada do humor nacional nos
cinemas vem ofuscar boas produções não comercializadas graças ao seu apelo
mercadológico. Nós produzimos muitos e assistimos pouco. Pouquíssimo. A culpa é
de quem? Quando uma novidade como Alemão
surge nos cinemas sem concentrar-se exclusivamente em grandes centros, chama a
atenção. Mas chama a atenção pelo aspecto que não deveria chamar. Observamos:
olha, não é mais uma comédia nacional. Mas é um filme de ação que vem da onda Tropa de Elite e Assalto ao Banco Central. Há outra questão mercadológica aí que
funciona bem. Bom para os produtores, relativamente bom para o cinema quando a
preocupação não é unicamente ganhar muito dinheiro. É o mal das grandes
produções! Não é o caso deste aqui, felizmente.
Assistiremos a ocupação do complexo
do Alemão em cenas de arquivo misturadas a outras fictícias trazendo a história
de 5 policiais infiltrados que ficaram presos por lá dias antes da pacificação
e instalação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadoras). Quando os policiais Branco
(Milhem Cortaz), Samuel (Caio Blat), Danilo (Gabriel Braga Nunes), Carlinhos
(Marcelo Melo Jr.) e Doca (Otávio Müller) tem suas identidades reveladas, todos
os traficantes do morro passam a buscá-los em todos os cantos. Graças ao feito,
ambos se reúnem secretamente numa pizzaria e aguardam reforços enquanto se
desentendem, se desconfiam e se ameaçam, enclausurados sob a expectação da
morte enquanto a ajuda não vem. Aí reside um dos maiores problemas do filme: percebemos
os policiais, no entanto não o compreendemos como deveríamos. Falta de trato do
roteiro apressado.
Várias questões se desenrolam,
discussões sobressaem levantando distintos aspectos sociais e do ser humano
oprimido. O choque de ideologias é visto através dos sequenciais conflitos. O
desenvolvimento disso é bem feito pelo diretor José Eduardo Belmonte, no
entanto percebemos que ao final parece falho, ou insuficiente. A razão é clara:
a profundidade de seus personagens é nula, o que nos mantém atentos e atônitos
são os ótimos atores, especialmente Blat e Milhem Cortaz que travam um caloroso
duelo. Vale ressaltar que quase toda a história se passa num único local, uma
espécie de porão. A noção espacial de Belmonte corrobora a técnica competente
da produção, basicamente alinhada muito mais ao juízo de valor do seu tema do que
a qualquer apontamento de heroísmo, muito embora existam lapsos desse paradigma
homérico.
Cauã Reymond assume o antagonismo
e também é um dos produtores. Ele já havia trabalhado com Belmonte no ótimo Se nada mais der certo. Antônio
Fagundes dá uma dinâmica diferente ao Delegado Valadares, vitimado, cansado,
esgotado. Há quem possa condenar o sentido dramático de sua presença cada vez
maior no decorrer da obra. É um traço inevitável desejoso em promover empatia,
certamente nos aproximamos dos personagens graças a isso, todavia há um
distanciamento da câmera que apenas percebe: esse afastamento é proposital, não
só para compreender a dinâmica em volta do medo, mas também para não tomar
partido e se assumir um longa político. Os interesses por trás da ocupação
ficam completamente de lado: o atrativo são as relações estabelecidas e os
horrores por trás da insegurança.
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