terça-feira, 1 de abril de 2014

Proseando sobre... Alemão



A alçada do humor nacional nos cinemas vem ofuscar boas produções não comercializadas graças ao seu apelo mercadológico. Nós produzimos muitos e assistimos pouco. Pouquíssimo. A culpa é de quem? Quando uma novidade como Alemão surge nos cinemas sem concentrar-se exclusivamente em grandes centros, chama a atenção. Mas chama a atenção pelo aspecto que não deveria chamar. Observamos: olha, não é mais uma comédia nacional. Mas é um filme de ação que vem da onda Tropa de Elite e Assalto ao Banco Central. Há outra questão mercadológica aí que funciona bem. Bom para os produtores, relativamente bom para o cinema quando a preocupação não é unicamente ganhar muito dinheiro. É o mal das grandes produções! Não é o caso deste aqui, felizmente.

Assistiremos a ocupação do complexo do Alemão em cenas de arquivo misturadas a outras fictícias trazendo a história de 5 policiais infiltrados que ficaram presos por lá dias antes da pacificação e instalação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadoras). Quando os policiais Branco (Milhem Cortaz), Samuel (Caio Blat), Danilo (Gabriel Braga Nunes), Carlinhos (Marcelo Melo Jr.) e Doca (Otávio Müller) tem suas identidades reveladas, todos os traficantes do morro passam a buscá-los em todos os cantos. Graças ao feito, ambos se reúnem secretamente numa pizzaria e aguardam reforços enquanto se desentendem, se desconfiam e se ameaçam, enclausurados sob a expectação da morte enquanto a ajuda não vem. Aí reside um dos maiores problemas do filme: percebemos os policiais, no entanto não o compreendemos como deveríamos. Falta de trato do roteiro apressado.

Várias questões se desenrolam, discussões sobressaem levantando distintos aspectos sociais e do ser humano oprimido. O choque de ideologias é visto através dos sequenciais conflitos. O desenvolvimento disso é bem feito pelo diretor José Eduardo Belmonte, no entanto percebemos que ao final parece falho, ou insuficiente. A razão é clara: a profundidade de seus personagens é nula, o que nos mantém atentos e atônitos são os ótimos atores, especialmente Blat e Milhem Cortaz que travam um caloroso duelo. Vale ressaltar que quase toda a história se passa num único local, uma espécie de porão. A noção espacial de Belmonte corrobora a técnica competente da produção, basicamente alinhada muito mais ao juízo de valor do seu tema do que a qualquer apontamento de heroísmo, muito embora existam lapsos desse paradigma homérico. 

Cauã Reymond assume o antagonismo e também é um dos produtores. Ele já havia trabalhado com Belmonte no ótimo Se nada mais der certo. Antônio Fagundes dá uma dinâmica diferente ao Delegado Valadares, vitimado, cansado, esgotado. Há quem possa condenar o sentido dramático de sua presença cada vez maior no decorrer da obra. É um traço inevitável desejoso em promover empatia, certamente nos aproximamos dos personagens graças a isso, todavia há um distanciamento da câmera que apenas percebe: esse afastamento é proposital, não só para compreender a dinâmica em volta do medo, mas também para não tomar partido e se assumir um longa político. Os interesses por trás da ocupação ficam completamente de lado: o atrativo são as relações estabelecidas e os horrores por trás da insegurança. 


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