domingo, 19 de outubro de 2014

Proseando sobre... Annabelle

Quando escrevi sobre Invocação do Mal, havia colocado em um dos parágrafos a seguinte frase: “…subvertendo formas, o filme se desenrola com clareza surpreendente, já que não larga muita coisa em suspensão, resolvendo-se em suas limitações”. Essa mesma frase se aplica nesse Annabelle (Annabelle, 2014), filme que tem uma boneca possuída e que foi brevemente apresentada pelo diretor James Wan no mesmo Invocação do Mal. Com a oportunidade de estender o sucesso daquele bom filme, fizeram esse spin-off para colher os louros do êxito aterrador a partir de um aterrorizante objeto possuído nos moldes de Chucky, o brinquedo assassino. Uma tal de Annabelle Higgins, mulher envolvida com ocultismo, amaldiçoa a boneca de uma maneira próxima a que Charles Lee Ray fez, se é que alguém lembra desse personagem que reúne sobrenomes de assassinos da história.
Jovens casais geralmente tem sido no cinema os alvos prediletos das mais diferentes assombrações. Aqui não é diferente, já que acompanhamos John (Ward Horton) e Mia Gordon (Annabelle Wallis). Eles estão aguardando o nascimento do primeiro filho. Mia coleciona bonecas e fica encantada quando ganha Annabelle. Tudo ia divinamente bem até uma tragédia envolvendo os vizinhos atingi-los brutalmente e envolver diretamente a assustadora boneca. Daí os mais estranhos eventos começam a acontecer e uma espiral de sustos, sons diegéticos e sombras criam todo o climão de um autêntico filme de horror. No mar de clichês sobressaem algumas boas cenas, inclusive uma que pode ser inserida como uma das mais criativas e verdadeiramente apavorantes do gênero: a cena em que uma criança atravessa o corredor.
Sem maiores pretensões a não ser reaproveitar um objeto de cena de um eficiente filme de horror, este trabalho se aproxima de Invocação do Mal graças ao clima sinistro causado. James Wan não o dirige. O cargo ficou com John R. Leonetti, diretor de fotografia e parceiro de Wan. O cara tem um passado pouco admirável, esteve à frente de Mortal Kombat – A Aniquilação(Mortal Kombat: Annihilation, 1997) e de Efeito Borboleta 2 (The Butterfly Effect 2, 2006). Sua habilidade com a fotografia ao menos garante um bom uso dos espaços físicos e da elaboração da atmosfera ambiente. Leonetti não tem um grande roteiro em mãos, mas tem personalidade em assumir o ofício da câmera e transitar com ela nos pequenos espaços, evocando os objetos, tratando transições e investindo em sombras. Os sustos são consequências e acontecem com certa frequência, ainda que na maioria das vezes de maneira previsível. Um trovão aleatório, por exemplo, é uma investida para tal triunfo.
Annabelle é uma boa personagem. É naturalmente assustadora. Sua expressão implica na dúvida sobre o desejo de alguém de tê-la em casa, especialmente como ornamento principal de uma coleção especial num quarto infantil. A presença de crianças também garante o favorecimento da tensão da história, já que é sobre elas, aparentemente, que as maldições se debruçam. Num senso coletivo elas são fragilizadas e, desta forma, conquistam maior solidariedade por parte do público. É a questão do cuidado instintivo. A cena dos desenhos na escada é ótima do ponto de vista do clima – há uma óbvia manifestação de um potencial psicológico projetivo que acentua seu significado. No entanto, do ponto de vista do roteiro, está deslocado. Aos fãs de horror, taí um bom divertimento, especialmente quando não se é cético, ou se domina a habilidade de se permitir crer no que se vê dentro da sala escura. Ahhh, e como ingrediente extra, há referências ao clássico absoluto do terror, O Bebê de Rosemary(Rosemary’s Baby, 1968).



Um comentário:

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