Pode parecer saudosista, talvez seja,
mas ver Arnold Schwarzenegger fazer um tamanho estrago nas telonas semelhante
ao que fazia na década de 80 e 90 é algo para se festejar. É nostálgico para
quem cresceu assistindo alguns ícones – que se encontraram recentemente em “Os
Mercenários” – participarem de grandes filmes de ação recentes, mesmo que
estejam longe de vivenciar personagens que garantiram permanência no imaginário
popular como fora em outrora. Schwarzenegger não é um ator que simplesmente
passou, o cara fez “Conan”, “O Exterminador do futuro”, “O Vingador do Futuro”,
“O Predador” e “True Lies”, longas importantes cuja relevância é
inquestionável. Após algum tempo como governador da Califórnia ele finalmente
retornou ao estrelato e assumiu o protagonismo desse “O Último Desafio”, filme
de ação pulsante, violento, cômico e metalinguístico, conferindo ao seu
protagonista uma sátira muito bem colocada.
A história é inventiva, embora
pareça simplista e frívola num primeiro instante, talvez vítima de preconceitos.
Um seqüestrador em fuga precisa atravessar a fronteira entre Estados Unidos e
México. Ele consegue driblar o FBI e está a toda velocidade rumo a sua terra,
mas para isso precisa atravessar uma pequena cidade do Arizona que possui um
xerife implacável, Ray Owens (Schwarzenegger). Risível? Seria se não fosse a
dinâmica proposta pelo diretor sul coreano Jee-woon Kim que filmou a algum
tempo o faroeste “Os Invencíveis”, uma releitura de “Três Homens em Conflito”.
“O último Desafio” é substancialmente um faroeste. No entanto, ao invés de
cavalos, assistimos carros atravessando estados. Falamos precisamente de um
Corvette e um Camaro. O cenário é típico do gênero, a fotografia busca o sol
beijando a cidade construída sobre um campo deserto. O antes – espaço, armas,
tradição – e depois – tecnologia, carros velozes – se complementam num filme
virtuoso que explode em testosterona.

Não é, nem de longe, um representante
artístico resultante de um progresso cinematográfico de atores que pretenderam
ir além do brucutu imperioso estigmatizado, embora tenha esse alinhamento de
gerações e o exercício da metalinguagem sobre seu protagonista. É, antes de
qualquer coisa, um filme para divertir, para fazer recordar filmes e cenas
célebres do cinema de ação descompromissado e azucrinado. Quando um cara surge
dirigindo um Corvette a 300 quilômetros por hora rumo a pequena cidade decadente
de Sommerton, aguardamos um clímax explosivo típico do western de outra geração.
Anos 60 ou 70. Barricadas são montadas, caras escondidos em telhados e janelas empunham
rifles. O saloon e os prostíbulos deram lugar a pequenas casas e bares,
equipados com a modernidade, guardando o sabor do passado em suas
representações no contexto filmado.
A ação não para e situações se
acumulam expostas de maneira concisa, buscando se estruturar na pele da figura
de Arnold Schwarzenegger, celebrado, brincando com sua idade, embora demonstre
força e imponência invencível ao longo de seus 65 anos. O ator tem presença em
cena, isso nos faz querer recordar de outros atores atuais estrelas de filmes análogos
que tem igualmente distinção. Ninguém vem a mente. Ao menos não da nova
geração. Desenrola-se o projeto de Jee-woon Kim que estréia em terras americanas
levando diferentes potenciais narrativos: o drama de um ex-soldado que se
isolou sem familiares no interior do Arizona; e um filme de perseguição austera
com belas mulheres figurando entre heroínas e vítimas; algumas naturalmente
fatais. Os brutos ainda imperam.

Feito pra o Schwarzenegger
explodir algumas pessoas e provar seu vigor, o projeto é um passaporte para os
anos 80 com a legendária violência desmedida, vista atualmente como cômica.
Muita coisa mudou. A narrativa, apesar de se debruçar no passado, acompanha a
modernidade, tem seus excessos costumeiros e algumas soluções inspiradas,
impossíveis de se levar a sério, porém pontuais: o cara com o agasalho da seleção
holandesa. O roteiro também carrega alguns vícios e clichês, como o vilão – que
tem que ser – mexicano (vivido por Eduardo Noriega) e a pequena trupe de
ajudantes – outra piada lançada em um ato – que conta com um ex presidiário, o
desajustado local Frank (Rodrigo Santoro), uma bela jovem corajosa, Sarah (Jaimie
Alexander) e um imigrante, Mike (Luis Guzmán). Guilty pleasure.