
A história é simples e carrega potencial. Anne (Binoche) é uma jornalista da revista Elle com pretensões de fazer uma matéria contendo entrevistas feitas com estudantes universitárias que se prostituem. Sua curiosidade transcende a motivação dessas garotas, parece buscar nelas uma resposta outrora recalcada em sua vida. Há uma intrusão a intimidade dessas mulheres que até certo ponto se defendem. Quanto a protagonista, percebemos o quanto é legítima sua projeção durantes as conversas, com a atriz habilidosa em cena mostrando-se introvertida, perdida em devaneios enquanto as jovens contam orgulhosamente suas experiências. Anne às vezes se perde na escuta. Já as garotas, Alicja (Joanna Kulig) e Charlotte (Anaïs Demoustier), contam despreocupadamente e com detalhes seus encontros.
Capaz de absorver os detalhes das entrevistas levando a aspectos de sua rotina, relação com o marido, filhos e o trabalho, Anne se apropria dos discursos percebendo-se atada a frustração pessoal, algo que ela não via, ou pelo menos não queria ver. Sua compreensão arrasta-se até um jantar em que ela mesma prepara numa noite a fim de recepcionar o chefe do marido. Essa construção é banhada de metáforas e referências por vezes libidinosas, constatando sua nova condição consciente. A diretora polonesa Malgorzata Szumowska não emprega moral em seu longa e leva as prostitutas a outro âmbito em cena, diferindo do comum retratado onde usam personagens provenientes da miséria e encontrando solução na prostituição. Elas não são vítimas de um contexto. Aqui, acontece por vontade. Faz lembrar as memórias de Mãe, filha, avó e puta quando tece uma crítica a condição da mulher e relata, em defesa das prostitutas, que o mundo não é feito de vítimas e que tudo é negociável, inclusive o sexo.
A temática não é nova e nunca sai de moda. Steven Soderbergh trabalhou com a ex-atriz pornô Sasha Grey em Confissões de uma Garota de Programa (The Girlfriend Experience, 2009) trazendo parecidamente o glamour hipócrita de uma pessoa que vive duas vidas, embora a verdade seja, por vezes, compartilhada. Incontáveis filmes são lembrados quando se trata o assunto, sobretudo na oferta de estabilidade, finalidade sedutora posta nos diálogos. Esses que no filme soam frouxos e vagos, comprometendo o resultado final. Sua limitação pouco envolve, mas instiga reflexão levantando dúvidas a respeito de quando o prazer se esgota. Vale fazer menção a A Bela da Tarde (Belle de Jour, 1967) de Buñuel, infinitamente superior a esse Elles (idem, 2011).

Crítica primeiramente publicada em http://www.cineplayers.com/critica.php?id=2454