segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Proseando sobre... 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias


Opinar sobre aborto é incitar discórdias. Quando o tema é expresso no cinema não fica diferente. O desconforto do público é visível, cabendo a ele o julgamento. É sobre esse assunto que o filme "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias", disponível em DVD, ilustra com tanta precisão, ao abordar o drama de Gabita (Laura Vasiliu), grávida, pretendendo praticar o aborto, em pleno comunismo na Romênia, ato considerado criminoso no país.
O aborto em questão
Ela recorre a sua amiga Otilia (Anamaria Marinca) e juntas partem em busca de uma solução para o problema. O ano de 1987 é retratado com o comunismo perdendo a força, mas ainda em vigor, com duas estudantes a procura de um abortamento clandestino, até encontrarem Sr. Bebe (Vlad Ivanov), que ao descobrir que Gabita está com a gravidez mais adiantada do que havia lhe dito, decide cobrar um preço muito maior pelo serviço. A polêmica em torno da narrativa se reforça com a violação moral detalhada nas exigências de um homem que aparece como solução - também trazendo punição. A personagem de Laura está decidida, reconhece as consequências e se mostra disposta abortar, embora muitas vezes receie e relute.
A expulsão do feto: filme incomoda
O diretor Cristian Mungiu nos presenteia com um drama sólido e denso, não recorrendo a moralidades para concluir sua obra. O estrago é feito e o que fazer com ele irá inflamar a história. Para isso, o filme divide-se em dois grandes momentos: a expulsão do feto e sua destinação. O longa incomoda pela originalidade, com cenas tão verossímeis e personagens tão intensos que na angústia da história compartilhamos de seus sofrimentos. A ausência de trilha é mais um atrativo aproximando o filme da realidade, demandando repulsas e frustração.
O sofrimento não cessa, sendo esse capaz de fazer com que alguns deixem de ver o filme, atormentando por concepções inatas tão presentes e demasiada valorativas. Mungiu não desperdiça a segurança do roteiro com planos absortos, revelando a hombridade de uma amizade (discutível em outros aspectos) se fartando de detalhes corroborando as atitudes de suas personagens, realizando perturbadoramente o aborto.
Anamaria Marinca impressiona
É um clímax extasiado pela surpresa e pela revolta, imensuravelmente aflita, provocando um terror particular no público que rejeita, impulsionando convicções que se confundem fortalecendo um chocante silêncio. É aí que o talento de Anamaria Marinca se eleva, nos convidando a fazer parte daquele universo fatigante, o qual a câmera ritmamente segue em planos seqüenciais inesquecíveis. "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias" foi o grande vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2007. Esquecido pelo Oscar, também não se popularizou. Seu marco é sua estrutura e sua ousadia em não tomar partido, apenas exibindo fatos e permitindo discussões acerca de sua polêmica, oferecendo debates inesgotáveis. Preservando os diálogos, os gestos e o silêncio, Cristian Mungiu cria uma obra prima que coloca o aborto em questão de modo como nenhum outro filme havia feito. 

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