
Temos acesso a dois períodos
diferentes com os mesmos personagens, Max e Frey quando crianças e adultos. Na
versão mais velha são vividos por Matt Damon e Alice Braga. Ambos vivem no
planeta Terra morto sem verde desejando um dia chegar até Elysium, promessa
feita pelo menino a menina. Um dia ele a levaria até lá. Circunstâncias os
separam com cada um indo para um canto até um encontro súbito no futuro. Daí a
coisa se desenrola e o filme acontece devido ao almejo dos grandes desejos do
homem: a beleza conservada e ausência de qualquer doença. A tecnologia de
Elysium permite ambas, mas esta é limitada a poucas pessoas, negligenciando os
milhares de doentes que agonizam no planeta condenado.
O início promissor da fita é empolgante.
Os flashbacks bem distribuídos – no início, ao contrário do que se segue no
final – remontam histórias de injustiças e promessas feitas em nome da
inocência. Temos todas as informações do que se tornou o planeta Terra e de
como é a vida de seus habitantes, especialmente numa Los Angeles assolada e
empoeirada, onde boa parte das pessoas falam espanhol, resultado da alta
imigração. Ali Max passa os dias com um emprego ordinário, tendo problemas com
a lei e arriscando a vida em troca de migalhas. Julio (Diego Luna), fiel amigo
de Max, e Spider (Wagner Moura), um hacker que busca todo o tempo ingressar na
estação espacial levando alguns imigrantes terrestres, são dois personagens que
terão histórias relativamente desenvolvidas. Wagner Moura, é preciso mencionar,
está excelente!
O bom ritmo da trama circunda um
universo de possibilidades do roteiro que acaba não se atendo a nenhum. A
segunda metade é dedicada a ação. Essa é bem filmada e empolgante,
especialmente com um vilão que complica as investidas heróicas do início ao fim
da projeção. Sharlto Copley, ator sul africano protagonista de Distrito 9, é o antagonista da trama.
Ainda há Jodie Foster implícita numa vilã velada. O heroísmo fica a cargo do
razoável Matt Damon que converte-se num
humanóide para tentar salvar a si mesmo. Suas motivações se transformam a
medida que o longa avança.
As mazelas do mundo estão
implícitas na história: poluição, desigualdade social, fome, crise financeira.
Assistimos um futuro esperado de modo certamente pessimista, mas não absurdo. A
tecnologia separando extremos é um ponto relevante, embora possa levantar
críticas ao opor ricos e pobres, responsabilizando o abismo que os separa. Blomkamp
não parece preocupar-se em discutir política ou filosofia, mas incitar questões
relativas a ela, sem tomar partido. Parece vago numa primeira espiada, mas há
muita coisa lançada sem o objetivo de ser cuidadosamente discutida. É um Sci-Fi
consciente, envolvente, com doses de emotividade e ação sem moralismo, a não
ser o olhar sobre nosso planeta e o que temos feito contra ele. Uma corrente
guarda uma imagem histórica como memória num pingente e alguém pede para um personagem
não se esquecer de onde veio. O belo planeta Terra manteve a beleza numa
fotografia.