terça-feira, 30 de julho de 2013

Proseando sobre... Wolverine - Imortal



Depois da bomba intitulada “X-Men Origens: Wolverine” lançada em 2009, o mutante mais querido ganhou um novo filme. Bem melhor, diga-se de passagem, comparado ao desastroso longa anterior. Hugh Jackman retorna – hoje parece ser impensável um Wolverine que não seja ele – destilando a ferocidade natural de seu ótimo personagem, nunca devidamente aproveitado no cinema. Seu compromisso nesta sua nova aventura é em Tóquio. Um novo contexto para novas ambições. Pra se fazer diferente, mexeu-se em quase tudo. Quase tudo mesmo. A fonte reside nos filmes passados do X-Men. Jean Grey (Famke Janssen, preservada e bela) apavora o sono do protagonista que está com a sanidade condenada devido a imortalidade. Revisitar Logan (ou Wolverine) é sempre interessante, pois é um dos personagens mais fecundos da Marvel. E pedindo licença, penso no cinema: é notório o quanto os filmes de heróis andam sofrendo. Tem se percebido, até pelas bilheterias, o esgotamento desse gênero. Esses já não despertam tanta atenção?

Voltando a obra, a história se desenvolve sobre um conflito entre espadas samurais e garras de adamantium, buscando o passado de seu protagonista e seu desejo letal, viabilizando um acontecimento passado bem arranjado, a bomba em Nagasaki. Acompanhamos a boa trama com potencial de explorar profundamente a essência de Logan, sua figura complexa e sofrida devido aos acontecimentos do terceiro “X-Men”. Temos acesso a intimidade desse mutante poderoso, seus temores, seu sono inquieto. O roteiro preenche essa lacuna vaga costumeira em exemplares semelhantes, atendo-se a exploração de personagem a serviço da história, não se entregando exclusivamente a ação escoltada pelos efeitos especiais. Talvez isso seja o que vem faltando em produções análogas e anda afastando os espectadores da sala escura devido ao “... já vi isso antes”, comparando “esse” com “aquele”. Pode-se dizer que o resultado tem sido perigoso, os blockbusters vem aniquilando o potencial criativo a favor da dimensão visual vazia. 

Presenciamos uma inovação oportuna neste exemplar, daquelas que podemos dizer ter relação a humanização de um personagem, aproximando-o do público – como o “Batman” de Nolan conseguiu fazer. O medo de voar, por exemplo, torna Logan racional. Tornar um imortal mortal é outro trunfo dos roteiristas e do diretor James Mangold (“Johnny e June”, “Garota, interrompida” e “Identidade”). Os filmes mencionados demonstram a habilidade que Mangold tem com personagens, ao contrário de dirigir cenas de ação. Aqui ela aparece esquemática e até irrelevante a trama. Sabota a profundidade buscada em seus minutos iniciais, converte-se num emaranhado de situações ilógicas com acréscimo de violência descerebrada e por vezes constrangedoras – a cena da luta sobre o trem bala é terrível. A referência a Yakuza parece ter convencido os roteiristas que seria uma boa idéia mencioná-los. Cabe ao público tentar compreender o porquê.

De bons valores, não suficientemente apresentados, mas com energia contagiante, “Wolverine – Imortal” termina com sensação de dever cumprido, embora aquém do que o personagem merece. Não faltou tempo para explorar algumas questões ignoradas e impulsionar um romance ruim que só seria aceito como um afeto por ocasião, sexo descompromissado ou como alívio para as tensões que a sucessão de eventos perigosos vem ocasionando. Chegamos ao destino do filme: a oposição entre Logan contra Wolverine, a cobiça frente ao que considera maldição. Têm-se um novo rumo que poderá surpreender. Já os antagonistas estão bem colocados, a surpresa final garantirá afeições do público que perceberá o herói fragilizado e próximo de perecer diante uma máquina assassina similar a ele próprio. De destaque, fica a atriz russa Svetlana Khodchenkova vivendo a cruel víbora com uma lascívia lancinante. 


terça-feira, 23 de julho de 2013

Proseando sobre... O Concurso



Na tentativa de fazer humor, Pedro Vasconcelos mexeu em estereótipos regionais, trazendo estilos e formas carimbadas tentando fazer graça e levar ao público um pouco do que se vê costumeiramente em programas humorísticos televisivos risíveis. Várias situações constrangedoras se acumulam em 90 minutos ininterruptos de trivialidades com cenas quase que incapazes de provocar qualquer sorriso. Bons atores estão comprometidos por um texto ruim e pela falta de habilidade da direção em trabalhar cenas sem fazê-las assemelharem-se a esquetes. Vasconcelos lança uma das comédias mais esquemáticas e descartáveis da cinematografia nacional dos últimos anos, fazendo frente a bobagens monumentais como “Cilada.com” e “As Aventuras de Agamenon - O Repórter”.

Do Ceará sai um religioso supersticioso, o carismático Freitas (Anderson Di Rizzi); Do interior de São Paulo, o tímido Bernardo (Rodrigo Pandolfo) vira celebridade e conta com a torcida de toda a cidade; no Rio de Janeiro, o carioca Caio (Danton Mello) sobrevive de trambiques; e de Pelotas, no sul, surge Rogério Carlos (Fábio Porchat) que tem a orientação sexual reprimida por um pai “machão”. Todos tem em comum o concurso do título, já que são finalistas para o cargo de Juiz Federal. Os conhecemos numa cena introdutória com situações precárias. O roteiro logo abre uma lacuna para apresentar – em formato de esquete – cada um dos sujeitos e revelar como descobriram que disputariam o importante cargo. O humor de situação se expande desse encontro ao pior estilo “Se beber, não case” quando juntos, a convite de Caio, vão em busca do gabarito da prova que está incompreensivelmente nas mãos de um traficante anão.

Algumas ações são difíceis de compreender narrativamente, seja por problemas do roteiro ou por boa parte do filme ter ficado na sala de edição: o encontro de Bernardo com a fogosa Martinha (Sabrina Sato interpretando Sabrina Sato com facas) num boteco no Rio de Janeiro; a piada da maconha na praia que não chega a resultado algum; ou o anúncio na TV sobre jovens envolvidos com tráfico na capital carioca cair no esquecimento. As situações estão à deriva da história, tapando buracos visando montar cenário a fim de lançar uma ou duas piadas. O arco se abre com alguma criatividade, esgotando-se à medida que se direciona ao humor pueril. Um sopro e tudo se desfaz, já que nada amarra a história com as investidas cômicas. Os diálogos que ressaltam sotaques e costumes regionais não passam de piadas recicladas de alguma sessão humorística jornalística.

A ideia de trabalhar com jovens disputando uma vaga através de concursos públicos é um universo inexplorado, original e atual. Renderia muito num roteiro que objetivasse discutir o assunto num plot específico. A escolha dos realizadores foi boa, o resultado, todavia, não convenceu. Desagrada em vários fatores, tanto no seu potencial dramático quanto em seu gênero de origem, sabotando não somente bons atores, mas bons humoristas que estão atados ao convencionalismo de uma produção pouco envolvente que mal dá abertura aos intérpretes em fazer algo de novo. A narrativa ilógica só compromete, não dá pra aceitar piamente os acontecimentos propostos sem qualquer sentido. Não dá pra aceitar que as comédias nacionais estejam ganhando a mesma função de um vaso sanitário. 



sábado, 20 de julho de 2013

Proseando sobre... O Homem de Aço



Poderia-se fazer uma série de apontamentos entre a história de Clark Kent de Snyder com a de Jesus Cristo. Se para alguns isso pode soar uma afronta religiosa, ou um desrespeito ou qualquer outra coisa que possa neuroticamente parecer ofensivo a algum fundamentalista, para o diretor parece ser um grande argumento em pró do desenvolvimento do arco dramático de “O Homem de Aço”, visando aprofundar o herói e explicitar seu papel nos planetas Krypton e Terra. O Super Homem está mais maduro do ponto de vista da noção antropológica, ganhou ênfase na infância com seu proibido nascimento, o deslocamento até a Terra como fertilidade de seu desenvolvimento e finalmente os 33 anos, idade a qual se assume um extraterrestre com incríveis poderes em benefício da humanidade. O espaçamento temporal da infância até a idade adulta foi totalmente ignorado. Temos acesso a alguns dizeres que salientam algo sobre seu passado sem maiores e melhores aprofundamentos. A partir daí o filme explode em ação quase que ininterrupta, convulsiva e gratuita. 

Seu início passasse em Krypton, toda elaborada em CGI. Uma guerra vem dividindo o planeta opondo o general Zod (Michal Shannon) e Jor-El (Russell Crowe). O primeiro termina preso enquanto o segundo consegue mandar seu filho Kal-El – que mais tarde ganharia a identidade de Clark Kent – para um planeta semelhante. O destino é a Terra. Krypton fora completamente arruinada. Zod sobrevive juntamente a uma equipe desejosa em salvar sua espécie considerada superior. Eis o mote para uma série de vários acontecimentos envolvendo o pequeno kryptoniano com os terráqueos. Como este chegou e deparou-se com seus novos pais Jonathan Kent (Kevin Costner) e Martha (Diane Lane) é algo que o roteiro de David S. Goyer e Christopher Nolan (diretor da ótima trilogia “O Cavaleiro das Trevas”) não faz a menor questão de explicar. O que parece importar é que Clark cresceu apesar dos pesares e venceu suas dificuldades para se tornar o salvador do mundo num percurso de descrenças. 

O esgotamento de Krypton devido a devastação desenfreada dos recursos naturais ocasionada por seus habitantes rima com as condições atuais terrestres, nos fazendo aproximar daquele universo minado, não tão distante do que poderia acontecer no futuro da Terra. A maneira com a qual é mostrado o nascimento das crianças kryptonianas e a razão desse curioso investimento é uma aposta criativa do roteiro. Chegaríamos a tal ponto? O filme não se contextualiza basicamente em apenas um local no espaço como fora tratado nas obras anteriores. A coisa toda é mais megalomaníaca e ousada, expondo outros mundos visando dimensionar a responsabilidade do Super Homem e seu papel revolucionário. Andando contra o vento em busca da identidade que lhe falta, Kent atravessa os Estados Unidos a procura de emprego e de respostas. Encontra um OVNI congelado numa época de descobertas científicas, o que lhe aproxima de Lois Lane (Amy Adams em um de seus mais desinteressantes desempenhos na telona), salvando-a numa primeira oportunidade. 

Junto com a descoberta do OVNI, o mundo descobre também um extraterrestre, o próprio Clark que tenta provar que está ao lado da humanidade imediatamente após a repetina chegada ameaçadora de Zord. Tudo acontece demasiadamente rápido e logo assistimos uma guerra de imensas proporções encolhida num ponto em Metrópolis, o que nos levanta a dúvida sobre a noção espacial de seu diretor. Algumas escolhas são risíveis – o fim do personagem de Kevin Costner, por exemplo – e há diálogos constrangedores juntamente a cenas de incrível beleza técnica com um vazio descomunal. Essas nada significam a não ser demonstrar o quanto Zack Snyder segue atento ao visual deixando questões substanciais a cargo da interpretação dos espectadores. Henry Cavill é o super-homem da vez demonstrando vigor físico na mesma proporção que exprime falta de talento dramático. Nesse ponto, vale observar o bom elenco envolvido com grandes nomes desperdiçados. Snyder é talentoso e criativo, mas é fraco quando dirige atores. Neste meio se sobressai um Costner contido e Michal Shannon que vive Zod. Sua interpretação é certamente o que há de melhor no filme.  

Os passos deste Jesus heróico, ou melhor, de Kal-El ou Clark Kent são narrados sem muita emoção. Quase não nos inteiramos sobre quem de fato é o protagonista. Se ele começa perdido, parece terminar igualmente desorientado. Outra questão comprometedora diz respeito ao excesso de flashbacks que não consegue moldar a persona Clark Kent, nos distaciando de seu âmago. A sacada é exibir feitos tornando-o importante e distanciado num padrão social humano. Exploração fortuita que não chega a nenhum lugar, a não ser ao que verdadeiramente interessa: o heroísmo do salvador. Pra ficar ainda mais claro a fixação religiosa da trama, fora filmado uma cena grotesca numa igreja onde Clark pede conselhos a um padre. No fundo, no vitral, a imagem de Jesus resplandece. Soa bonita e até romântica a referência, mas ela é demasiada expositiva e sem qualquer profundidade dramática. Está ali por estar. Zack Snyder realiza seu pior filme, muito abaixo de grandes obras como “300” e principalmente “Watchmen”. Dispensou slow motion e assumiu a câmera de maneira convulsiva, insegura tal como o filme, transformando-o num exemplar de destruição ao melhor estilo grotesco de “Transformers” numa direção burra como a de Michael Bay. Bastante decepcionante!


sábado, 13 de julho de 2013

Proseando sobre... Meu Malvado Favorito 2



O que esperar de uma continuação de uma animação narrativamente limitada que tanto sucesso fez quando fora lançada? A mesma sorte? Talvez sorte seja uma palavra injusta. O fato é que “Meu Malvado Favorito” lançado em 2010 não tinha uma grande história, era até tola demais. Venceu graças a outras coisas: carisma e humor cativante. Fica difícil não se encantar por sua simplicidade. Conquistou as crianças e os adultos com um personagem que funciona como um anti herói juntamente aos pequenos Minions. Ainda soma-se a história 3 garotas adotadas. Nesse segundo filme todos retornam tão frágeis e simples quanto o primeiro. O investimento maior recai sobre os Minions que quase ganham o filme inteiro, mas o protagonismo ainda é de Gru, o vilão herói com sotaque curioso, completamente comprometido pela infeliz dublagem brasileira.

O contraste entre o mundo exterior e o mundo de Gru permanece com menor força. Sua casa segue diferenciada das demais, escurecida e com artifícios que a fazem parecer um lugar sombrio. O preto e o cinza predominam o interior enquanto no exterior cores explodem. O filme é coloridíssimo e abarrotado de coisas consideradas “fofas”. A criançada vai adorar, os mais crescidos irão se divertir e os adultos rirem, apenas rirem, sobretudo quando o filme abre alas para os Minions que anteriormente apareciam episodicamente. Dessa vez eles tem uma função mais importante na narrativa, condensando-a em meio a várias subtramas paralelas tais como a relação de Gru com as meninas, ou com um suposto par romântico, a agente Lucy. Ainda há o crescimento natural de uma dessas meninas, interessando-se por um jovem capaz de fazer o herói morrer enciumado.       

Parte do sucesso do original consistia na explanação dos simpáticos Minions, pequenos seres que trabalhavam para Gru. Agora estes são bem mais exigidos. Formam uma colônia com funções bem definidas. Pra lá de divertidos, são responsáveis pelos melhores momentos de todo o filme. Gags pontuais e uma ou outra cena cômica são bem encaixadas, no entanto nenhuma supera a avalanche final com os números musicais que fará muita gente gargalhar, especialmente a galera de gerações passadas. Quanto a história, esta é simplória: um novo vilão está ameaçando o mundo com uma poção que transforma os infectados em monstros roxos horrendos. A associação Antivilão decide convocar o ex vilão Gru para ajudá-los, pensando que ele poderia antecipar os passos do estranho ameaçador.

Como ponte do filme anterior, além da relação paternal que fez Gru abandonar a vida de malfeitor, dessa vez desponta para o empreendorismo do protagonista que vinha buscando fórmulas de geléias e gelatinas para crianças, tentando levar uma vida boa e honesta, motivado pelo carinho que singelamente desenvolveu pelas filhas. O passado, por sua vez, vem lhe buscar. Leve, a animação é uma bela pedida para um momento descontração em família. Não oferece muito o que pensar, e tampouco se aventura em outros rumos que filmes do gênero mais sofisticados arriscam, porém diverte muito com sua ingenuidade e bons personagens demasiado adoráveis e sorridentes.  



segunda-feira, 8 de julho de 2013

Proseando sobre... Truque de Mestre



Como se observássemos um número de mágica, somos induzidos pelo diretor Louis Leterrier a acompanhar admirados todo seu filme que é plasticamente atraente. Funciona maravilhosamente bem, até começarmos a prestar atenção demais e levá-lo a sério mais do que deveria. Talvez não devêssemos levar tanto, no entanto, algumas questões o fazem ser grande, ou melhor, querer ser grande. A começar pelo elenco muito bem escalado, mesclando ícones do cinema com estrelas contemporâneas. A narrativa também interessa, já que desperta curiosidade sem tanto esforço e brinca com isso com competência, especialmente pela forma como é filmado. A câmera não para, dança com a grua sobre os personagens e salta sobre as cenas em que alguma mágica está para ser realizada. Tudo fica bonito e fascinante, e também trivial, quase que fugaz. 

O clima de obscuridade nos insere no universo de ilusão proposto pelo filme. A apresentação inicial dinâmica de seus personagens é esperta, nos aproxima deles, embora não o compreendamos por falta de cuidado do roteiro. São 4 figuras com diferentes habilidades que se identificarão como os 4 cavaleiros, tornando-se estrelas da noite para o dia após provocarem verdadeiras façanhas envolvendo muito dinheiro. O espetáculo elaborado por Daniel Atlas (Jesse Eisenberg), Henley Reeves (Isla Fisher), Merritt McKinney (Woody Harrelson) e Jack Wilder (Dave Franco) impressiona os olhares atentos dos que lhes assistem entusiasmados. Os atores estão definitivamente convincentes em seus papéis. O curioso é que nos ligamos mais aos atores do que aos personagens. Esses, infelizmente, não tem lá muito tempo em cena juntos para criarem um vínculo mais forte com seus espectadores. A exploração deles é quase nula: conhecemos um pouco um romance passageiro, idolatria de um pelo outro, e megalomania. Nada de tão substancial. Dave Franco é o mais deslocado. 

Impressionar o mundo através de um plano mirabolante que tem por detrás ambição por vingança e uma razão social. Sugere-se a possibilidade da existência de mágica como explicação de ações inexplicáveis. Isso dura pouco. Convidados a entrar na onda dos ilusionistas com seus truques, nós embarcamos numa onda de mistério convencional, seguindo clichês bem dispostos numa trama que é essencialmente de cães, gatos e ratos em convulsiva perseguição. Los Angeles, Nova Orleans e Nova York são planos de fundo de tudo que se desenrola. Uma cena de perseguição – ao melhor estilo “Carga explosiva versão econômica” – demonstra a insensatez do espetáculo produzido. É bom recordar que Louis Leterrier é o diretor de “Carga Explosiva”, “Fúria de Titãs” e O Incrível Hulk”. Seria inevitável não realizar qualquer cena que honre sua filmografia. 

Nesta história de mistérios e ilusões, onde a mágica e milagres são respostas para aqueles que economizam sensatez, alguns se sobressaem quando investem em respostas. É o agente Dylan Rhodes (Mark Ruffalo) quem fica incumbido de desvendar as artimanhas da astuta quadrilha. Ele conta com a ajuda da inexperiente agente da Interpol, Alma, vivida pela bela francesa Mélanie Laurent do singelo “Não se preocupe, estou bem” e de “Bastardos Inglórios”. A loira está concisa e cativante, tornando Alma a personagem mais fértil, estranhamente enigmática. Laurent rouba o filme da trupe americana. Com ela surgem algumas piadas que opõe os Estados Unidos e a França e seus distintos métodos investigativos. 

Funcional em quase todos os planos, o que dá errado é a veracidade por trás dos fatos, ou da tela. Entendemos claramente que tudo não passa de um truque de mestre, como sugere o título português, mas a essência da trama não se configura num plano lógico, embora tenha seu início e seu resultado. O problema é o meio e a direção desordenada de Louis Leterrier que se ocupa de um roteiro fantasioso e criativo, porém frívolo que quase se desmancha caso o filme não possuísse agilidade para se segurar. Atores importantes como Morgan Freeman e Michael Caine apenas divertem-se em cena em interpretações convencionais, o que dá indícios de que tudo é uma apresentação lúdica sem grandes pretensões. Não é um exemplar competente de longas com temática semelhante, comparando a um bom exemplo recente como “O Grande Truque”, mas é bem divertido e, literalmente, mágico.  
  


segunda-feira, 1 de julho de 2013

Proseando sobre... Guerra Mundial Z



 Seguindo a safra de obras baseadas no tema zumbi, “Guerra Mundial Z” chega com uma tentativa de nova abordagem, trazendo mortos vivos bastante ágeis, tal como já vistos em alguns filmes. Longe da pretensão de alterar a história dos caminhantes lentos em decomposição a procura de cérebro, o cineasta Marc Forster brinca com sua temática constituindo um bom longa de ação com momentos de tensão que praticamente obriga o espectador ficar imutável frente a algumas cenas. Adianto que não dá para cravar a obra como uma das mais relevantes do tema. É um filme de ocasião, que bebe bem do sucesso contemporâneo assumindo um plot que funciona como lição moral bastante romantizada, ainda mais quando se resolve lá nos seus quase 120 minutos. Esse finalmente divide o público com a mensagem de cartilha. Alguns irão idolatrar, saindo do cinema inspirados com o discurso poético de sobrevivência da espécie, outros ficarão frustrados pelo acumulo de clichês mesquinhos.

Seu início é promissor, vai direto ao ponto em 5 minutos. Falta tempo para desenvolver a história e seus personagens num primeiro instante, algo que fará muita gente estranhar. Teremos acesso a esses personagens, especialmente – e quase que exclusivamente – ao protagonista Gerry. Diálogos iniciais deixam questões no ar. Essas serão respondidas calmamente no meio do caos dos minutos posteriores. No trânsito, tal como visto no trailer de divulgação, explosões e muita correria. Pessoas estão saltando e mordendo umas as outras. O desespero toma conta em todos os países e a vida terrestre despenca assustadoramente. Nem o presidente dos Estados Unidos sobrevive. Não se trata de um filme cujos heróis estão no continente norte americano, muito embora seu personagem central seja de lá. Por sua vez, este é legitimado pela ONU. E a estrela é o astro Brad Pitt.

Seguro no papel, o astro hollywoodiano tem de defender sua família. Logo tem que defender o mundo. Não faz isso voluntariamente, mas como obrigação, já que os poucos sobreviventes estão reunidos e aqueles que são considerados inúteis em situação de guerra logo são descartados pelo bem dos que consideram merecer a sobrevivência. A escassez de mantimentos é grande. Tal como num treinamento, somos levados a pensar quem deveria ou merecia ser poupado, já que homens, mulheres, crianças, idosos, enfermos estão reunidos em um só local que não comporta todo mundo. Nesse lugar está a esposa e as filhas de Gerry que sobreviveram ao infortúnio em Newark. Juntamente a eles, um garotinho filho de imigrantes, algo inserido em uma das cenas mais sensíveis do longa, enquanto simbologia da união entre os povos, questão fundamental em benefício da sobrevivência mundial.


Assistimos boas cenas de ação combinadas a impressionantes efeitos. O triângulo formado por zumbis atrás do muro de Jerusalém é uma das cenas mais marcantes do longa e provavelmente do gênero. A sacada final, observável ao longo da narrativa, é bem pontuada. Não há qualquer objeção técnica de filmagem. Perde pontos unicamente por ser lançado em tal época cujo valor comercial parece mais relevante do que seu valor cinematográfico, já que estamos quase que exauridos de referências a zumbis. A série de clichês, algo inevitável – é verdade – tira a força do filme, subjugando-o ao visual. Estamos concernentes demais com o cinema de entretenimento. Ao menos esse é um exemplar que cumpre bem o papel de divertir.